Ilustração de Frederick Richardson, 1975
Dona Santa
Olavo Nunes (1871-1942)
Quando ela passa, risonha e pura,
De arzinho honesto, cheia de graça…
Todos murmuram: Que formosura!…
Quando ela passa…
Flores rebentam pelo caminho
Sob os pezinhos que a bota enlaça;
Beijos se escutam de ninho a ninho,
Quando ela passa…
Seguem-na olhares cheios de gula
Como os da fera fitando a caça,
Olhares meigos que amor açula,
Quando ela passa…
Boca vermelha que o riso enflora
Cintura fina que um dedo abraça,
Parece ver-se Nossa Senhora,
Quando ela passa…
À luz dos olhos dessa menina
Deserta o pranto, foge a desgraça;
Com grande afeto tudo se inclina,
Quando ela passa…
Sombrero alegre, cheio de fita,
Vestido leve de fina cassa,
Gosto de vê-la assim tão bonita,
Quando ela passa…
Trinulam aves pelas umbrosas
Ramas que o vento no alto entrelaça,
E abelhas d’oiro desfolham rosas,
Quando ela passa…
Quando ela passa, risonha e pura,
De arzinho honesto, cheia de graça…
Todos murmuram: Que formosura!…
Quando ela passa…
Em: Coelho Netto e a Mina Literária, Imprensa de Alfredo Silva, Pará: 1899, pp 34-36





