Soneto LXXII, de Paula Brito

16 09 2024
Ilustração de Walter Crane, 1878

 

 

Soneto LXXII

 

Paula Brito

 

“Quem pode ver-te sem querer amar-te!
Quem pode amar-te sem morrer de amores!…
(Maciel Monteiro)

 

 

Amo-te… e de te amar não me arrependo,

Bem que seja este amor, amor perdido!

Oh! se nunca te houve conhecido,

No fogo, em que ardo, não vivera ardendo!

 

Vejo o que fazes, e estou nisso vendo

Rasgos de amor de um coração ferido!

Também amei, também tenho sofrido,

Amo também,  também estou sofrendo!…

 

Não me queixo de ti, não, certamente;

O teu futuro, por teu mal, te obriga

Ao penoso martírio do presente!

 

Aqui tens a razão que a ti me liga:

“Se te sigo, me pedes que me ausente;

Se me ausento, me pedes que te siga!…”

 

 

Em: Poesias, Francisco de Paula Brito, Rio de Janeiro, 1863, edição digitalizada, Biblioteca Nacional.

PS: atualizei ao máximo a ortografia que já mudou muito nestes últimos 150 anos.