A lista de leitura de Elena Ferrante

26 05 2025
Ilustração John Crandall (?)

 

 

Em 2020,  a Wikipedia me diz, a escritora italiana Elena Ferrante, que se tornou muito popular na década passada com a quadrilogia napolitana, publicou uma lista de 40 romances escritos por mulheres que ela recomendaria.

Há muito passei da fase de ler um livro pelo sexo de autor.  Mas confesso que na década de oitenta do século passado, passei alguns anos, talvez uns cinco anos lendo exclusivamente mulheres, fora os livros que eu lia para as resenhas publicadas no jornal da cidade onde morei nos Estados Unidos.

Sei que cometo uma gafe, para os tempos modernos, ao dizer que há uma diferença na escrita de homens e mulheres. Essa afirmação não é bem vista em muitos círculos.  Mas não é o caso aqui de abrir esse assunto.  O que quero comentar aqui?  A lista de Elena Ferrante.  Já li alguns dos quarenta livros, e li algumas das autoras, mas outros livros.  Não seria a minha lista de autoras favoritas, mas é uma lista.  Como todas as listas, tem alguns vieses fortes, mesmo dentro da seleção de autores mulheres.

 

 

Dessa lista li e recomendo

Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie. Não é meu livro favorito dela. Meio sol amarelo é a minha preferência das quatro obras que li da autora. Mas é o mais querido do público.

O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion

O Amante, de Marguerite Duras

Os Anos, de Annie Ernaux

Amada, de Toni Morrison

O Deus das Pequenas Coisas, de Arundhati Roy

 A Porta, de Magda Szabò

Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar

Um homem bom é difícil de encontrar e outras histórias de Flannery O’Connor, que na lista aparece em inglês, mas está traduzido no Brasil.

Li algumas das autoras, que recomendo, mas li outros livros: Margaret Atwood, Rachel Cusk, Nathalia Ginzburg, Doris Lessing, Iris Murdock, Edna O’Brien.

Alguns livros tenho em casa. Mas eles me intimidam por seus tamanhos generosos: Uma vida pequena e O intérprete de males. Confesso que olho para eles e me pergunto: vou querer mesmo a companhia desse livro pelas próximas quatro, cinco semanas? Olho para as capas, elas não me seduzem. Os pobres volumes voltam para as prateleiras.

Há outras autoras na lista de que não gosto. Em outra ocasião explico porque. Escolham um, pelo menos, da lista como projeto de leitura para 2025. Ainda sobram sete meses neste ano!

 





Da minha mesa de trabalho

10 10 2016

 

dsc01492Crisântemos lilás nesta semana de outubro.

DA MINHA MESA DE TRABALHO

A obra é que importa. É o quadro, o livro, o poema. É a partitura, a escultura. Muralha da China, Torre Eiffel, Cristo Redentor.  Domo de Santa Maria del Fiore.  É a cirurgia de sucesso, o remédio que cura,  o para-raios. É a lei de Newton, a máquina a vapor. É isso que fica.  Se os feitos humanos marcaram a nossa presença, nos deram identidade, facilitaram a vida, prolongaram a vida isso é o que importa.  Não interessa saber se Donatello sofria de asma ou se preferia o verão ao inverno. Não é de qualquer importância se Magritte era ou não gago, se Machado preferia as louras. O que restou, aquilo que significa algo para alguém, emocionalmente ou fisicamente, é a obra.  Podemos ter curiosidade sobre como certas escolhas foram feitas e a razão que levou cada um daqueles que contribuíram para a cultura humana a decidir dessa ou daquela maneira.  Mas não é necessário.

Por isso devemos respeitar o anonimato daqueles que preferem proteger sua privacidade. A autora Elena Ferrante, que parece ter tido sua identidade revelada, sofreu, a meu ver, nessa semana que passou, uma grande agressão, um desrespeito à vontade pessoal de permanecer anônima. Elena Ferrante todos sabiam ser um cognome. Mas o quê dá direito a alguém de invadir a privacidade de uma pessoa que não está sob suspeita da justiça, que não apresenta um perigo para a sociedade? Quem disse que “o público tem o direito de saber”?  Quem estipulou isso?  Só porque fez sucesso é obrigada a ter sua vida defenestrada?  Os meios usados pelo repórter americano, examinando traços de riqueza de alguém que mantinha o perfil modesto, foram de grande falta de respeito e total insensibilidade.  Elena Ferrante não foi nem é um caso único.  Há muitos escritores de sucesso que sempre trabalharam com pseudônimos.  Abaixo uma pequena lista –  em negrito o pseudônimo.

Mark Twain – Samuel E. Clemens;  Voltaire — François-Marie Arouet;  O’Henry – William Sidney Porter; Lewis Caroll — Charles Lutdwidge Dodgson; Italo Svevo – Aron Hector Schmitz; Mary Westmacott — Agatha Christie; Agatha Christie – Agatha Mary Clarissa Miller; François Mauriac — Jean Bruller; George Eliot — Mary Ann Evans; Alberto Moravia – Alberto Pincherle; Robert Galbraith — J.K. Rowling; Stendhal — Marie-Henri Beyle; Pablo Neruda — Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto; Paul French — Isaac Asimov; Gérard de Nerval — Gérard Labrunie; George Sand — Amantine-Lucile-Aurore Dupin, Georges Orwell — Eric Arthur Blair.

Em outros campos, na política, Lenine — Vladimir Ilitch Oulianov; Trotsky Lev Davidovitch Bronstein; Stalin — Iossi Vissarionovitch Djougachvili. Nas artes plásticas há um grande número de artistas, conhecidos exclusivamente pelo local onde nasceram, nem por isso suas obras são menos apreciadas:   Caravaggio – Micheangelo Merisi; Pollaiuolo – Antonio Benci; Nos quadinhos um dos mais famosos foi Hergé – Georges Remi, criador de Tintin.

Há muitos outros.  E nem sempre um pseudônimo esconde o nome de uma pessoa.  Às vezes esconde o nome de mais de uma pessoa. Lembro-me do caso do autor de romances água com açúcar que consumi às dezenas no inicio da minha adolescência, publicados na série Biblioteca das Moças, M. Delly.  Este nome era o pseudônimo de um irmão e uma irmã, escritores franceses,  Frédéric Henri Petitjean de la Rosière e Jeanne Marie Henriette Petitjean de la Rosière.

Na França o pseudônimo [nom de plume, uma referência a escritores, “caneta de pena”] é tão respeitado, que é possível tê-lo citado na própria carteira de identidade.

Sinto-me indignada pela invasão de privacidade sofrida pela pessoa (homem ou mulher, ou ambos) que trabalha sob o cognome Elena Ferrante. Não havia necessidade.  O respeito a quem escreve deveria ter sido mantido.

LIVROS SOBRE A MESA — já lidos, à espera de resenhas: Meu nome é Lucy Barton de Elizabeth Strout; A última palavra de Hanif Kureish e Guerra de Gueixas de Nagai Kafu.

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