“Não sei”, poesia de Cora Coralina

12 12 2019

 

 

Angelo Simeone, (Itália-Brasil, 1899-1963) Figura feminina, Óleo sobre tela colado sobre eucatex, 60 X 48cmFigura feminina

Angelo Simeone, (Itália-Brasil, 1899-1963)

óleo sobre tela colado sobre eucatex, 60 X 48cm

 

 

Não sei

 

Cora Coralina

 

Não sei se a vida é curta

ou longa para nós,

mas sei que nada

do que vivemos tem sentido,

se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

o colo que acolhe,

o braço que envolve,

a palavra que conforta,

o silêncio que respeita,

a alegria que contagia,

a lágrima que corre,

o olhar que acaricia,

o desejo que sacia,

o amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não

seja nem curta, nem longa demais,

mas que seja intensa, verdadeira,

pura enquanto durar.

 

Foi esta poesia que abriu, para reflexão, o Encontro de Fim de Ano dos grupos de leitura Papalivros e Ao Pé da Letra, no domingo, dia 8 de dezembro próximo passado.  Agradeço ao Professor Sérgio Gonçalves Mendes [PUC-RJ] a sugestão desta abertura.





O Cântico da Terra , poesia de Cora Coralina

9 04 2015

 

 

antônio ferigno,Lide diária - arredores de São Paulo OST,27 x 42 Circa de 1895Lide diária, arredores de São Paulo, c. 1895

Antônio Ferrigno (Itália, 1863-1940)

óleo sobre tela, 27 x 42 cm

 

 

O Cântico da Terra

 

Cora Coralina

 

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

 

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

 

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

 

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

 

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

 

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.