Journals, diários, cadernos de anotações…

16 01 2025
Ilustração de livro francês.  Provavelmente da década de 1960.  Desconheço a autoria.

 

 

A mocinha aí em cima, me lembrou meus anos de adolescente.  Estudava numa escrivaninha como essa.  Não tinha gavetas laterais.  Havia uma gaveta grande e rasa para lápis, réguas, clipes, material de papelaria.  Embaixo havia um armário de duas portas, com uma grande prateleira, onde eu guardava meus livros, minhas revistas, tudo que era só meu e não da família.  A tampa fechada, era um alívio, dizia: “não precisa mais fazer dever de casa”.  Essa jovem da ilustração parece estar escrevendo em seu diário.  Manter um diário foi sempre uma tarefa que não consegui realizar.  Comecei muitos.  Mas sem sucesso. A vida sempre foi muito cheia de aventuras, brincadeiras.  Era muito ocupada e tudo parecia tão menos interessante quando era posto no papel, tão mais reduzido de excitação que não valia a pena relatar o dia a dia.  Mas a jovem adulta voltou aos cadernos.  Não aos diários.  Cadernos de citações, frases de livros, poemas. 

No YouTube no início de cada ano aparecem dezenas de vídeos ensinando as vantagens de se manter um diário para o equilíbrio emocional, para boas decisões.  Ou a importância para o pintor, artista plástico, de carregar consigo um caderno de sketches. Para leitores e escritores há as cadernetas de bolso para que se anote uma ideia, observação feita na rua, no jardim, na praia, algo que possa ser colocado como detalhe na sua escrita.  Não tenho nenhum deles.  Este ano, pela primeira vez, coloquei na bolsa um pequenino caderno para isso, mas vou precisar me lembrar de que tenho essa ferramenta.  Como nunca usei, talvez precise me esforçar para lembrar de que tenho essa coisa na bolsa.

 

 

 

 

O que faço, é uma adaptação do que é conhecido como Commonplace Book.  Não, não é o típico Commonplace Book, objeto vindo de um hábito criado na Renascença, na Itália, das pessoas guardarem citações, ditados, ideias do que fazer, ideias do que escrever, ideias próprias e uma variedade de anotações. O meu Commonplace Book é de coisas que vou lendo, que não são citações que encontrei em livros.  Essas eu tenho em cadernos separados e já escrevi sobre eles aqui no blog, no dia 23 de outubro de 2022, sob o título: O acaso sempre ensina.   Meu livro de anotações é de coisas que aparecem no meu caminho, ou alguma coisa que preciso verificar para um nota de rodapé ou para um detalhe que venha a ser interessante – não importante, mas interessante – para o futuro.  Não há ordem.  Não há assunto específico.  São coisas que acho que ainda voltarei a consultar, apesar de não saber exatamente porque. 

Todos eles são feitos exatamente como esse acima nas fotos, que é i caderno de 2022. Divido um pedaço da página, nos cantos, onde só coloco títulos ou ilustrações sobre o texto.  Sou uma pessoa que pensa por imagens.  Minha memória imagética é mais desenvolvida do que a memória de textos.  Por exemplo, não sei uma única de minhas poesias de cor.  Apesar de ter publicado um livro de poesias, ter diversas outras poesias publicadas em antologias  e estar tratando de meu próximo livro de poemas.   Mas preciso ler meus textos, porque não consigo me lembrar deles de cor.  Contudo, consigo resgatar conhecimento ou onde encontrar algo que procuro,  por causa das “figurinhas” que imprimo e colo no caderno.  Cada louco com sua mania, essa é uma das minhas.

Lembrei-me de colocar essa postagem aqui, porque estou fazendo minhas primeiras anotações no Commonplace Book deste ano.  Numero todas as páginas.  Guardo algumas páginas no final para um índice,  E assim muita informação secundária e interessante não só é guardada como faz parte de um processo a que tenho fácil acesso.

Não é o verdadeiro Commonplace Book.  Os puristas não gostarão de ver esse nome aplicado a esses cadernos.  Mas é para mim. 

E vocês?  Com ajudam sua memória?  Como guardam informações que um dia poderão vir a utilizar? 





O acaso sempre ensina…

23 10 2022

Adoro o acaso.  Sempre aprendo por onde o acaso me leva.  Domingo, já próximo do fim do ano, pensei  nos meus cadernos ou jornais de 2023.  Sim, tenho e mantenho alguns.  Recebi de presente de uma amiga um belíssimo livro de páginas em branco, que ela encadernou.  Recebi de outra amiga, na mesma ocasião, diversas ilustrações de pequeno tamanho, para que eu usasse neste journaling book.  Uma terceira amiga, me deu um porta copos de cerâmica, feito por ela, porque sabe que gosto de tomar chá ou café enquanto leio.  Elas três haviam combinado, é óbvio, depois de verem o que poucas pessoas conhecem: meu caderno de anotações literárias que mostra por onde andei e em que lugar li aquela frase especial, aquela passagem sem  igual.

Meu caderno de frases ou trechos de leituras. Este é o de 2022, já está no finalzinho. Este caderno foi presente de minha sobrinha Anna Paula no Natal passado.

Pois, sim, parece uma coisa antiga, não é mesmo?   Coisa do Século XIX.  Mas é muito útil.  Este blog segue em grande parte este espírito de anotar aquilo que acho interessante, é um Commonplace Book Digital, que já tem quatorze anos seguidos de anotações!  Mas na internet as coisas desaparecem.  Ando com vontade de imprimir em separado todas as passagens que já coloquei aqui.  São muitos anos de postagens.  Isso tudo começou quando eu tinha oito anos.  E minha avó materna, vovó Albina, me deu de presente de primeira comunhão um caderno, com capa dura, onde era para eu colocar poesias de que gostasse.  Havia um incentivo: eu poderia escrever com caneta a tinta para transpor as poesias.  Até então eu só usava lápis.  Daí para frente, tornou-se um hábito.  Nem sempre bem mantido durante a adolescência, um período em que li muito, muito mesmo, mas anotei pouco.  Mas tornou-se um hábito.  Recentemente recuperei de caixas de guardados alguns desses cadernos.  Uns dos anos 80.  Outros dos anos 90.  Posso sempre dizer quando andava atarefada, porque eles passam a ter anotações esparsas, mas tenho certeza que os livros lidos, naquela época de papel, têm muita coisa sublinhada e anotada nas margens.

O livro de poesias qua ganhei aos 8 anos e mantive até os 12 anos. Eu adorava POESIAS, escrito em dourado na capa.
Aqui quatro dos livros de leituras, com o primeiro bem em cima.

Para cada novo caderno, dou uma decoração especial, na capa interior.  Aquela imagem lá em cima, da capa da revista Colliers, de julho de 1929, só a imagem, vai para a primeira página do caderno de anotações de 2023.  Cada novo caderno merece uma repaginada na diagramação.  É uma bobagem dirão muitos, mas acredito que esses cuidados me ajudam a lembrar de trechos e passagens do que leio. 

Fiquei muito curiosa de saber o que aquela jovem no trem lia enquanto todos os senhores permaneciam sentados escondidos atrás de seus jornais.  Falta de cavalheirismo!  Em 1929!  O título do livro que ela lê, talvez tivesse algo a ver com essa falta de gentileza dos homens no trem.  Acho que teve.  Chama-se When knighthood was in flower [Quando o cavalheirismo florescia] Ironia…  Mas será que esse livro existia ou será que foi um título inventado para a ocasião?

Sim, publicado em 1898

Trata-se de um grande best-seller, um romance histórico. Foca no caso de amor entre Mary Tudor, irmã mais nova de Henrique VIII e um homem comum, sem nobreza, Charles Brandon.  Não dá sorte:  ela é obrigada a casar na corte francesa, por arranjo prévio de Henrique VIII com Luís XII da França.  Interessante notar que este livro foi o primeiro romance de Charles Major, que o publicou sob pseudônimo: Edwin Caskoden.  Provavelmente querendo se proteger caso a publicação fosse um desastre.

E ainda, este romance, foi tão popular que três anos após sua publicação ainda estava na lista dos mais vendidos, de acordo com o  The New York Times.  E ele fomentou, por causa do sucesso que obteve, uma verdadeira febre de romances históricos. Foi transformado em filme, em peça de teatro.  Teve uma longa vida, e ainda se encontra à venda caso vocês se interessem.  Um dia talvez eu tenha tempo  para ler.   Mas gostei de refletir nas atividades deste domingo.  Serendipidade é a palavra que vem à mente: o descobrir de coisas novas ao acaso.  Com isso, não comecei ainda o planejamento do meu livro de livros de 2023.  Temos ainda alguns fins de semana pela frente.

©Ladyce West, 2022, Rio de Janeiro