Gato
Carlos Anesi (Argentina-Brasil, 1943-2010)
óleo sobre tela, 90 x 130 cm
“E os olhos do escuro se amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.
O escuro ainda chorava:
– Sou feio. Não há quem goste de mim.
– Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.
– Então porque não figuro nem no arco-íris?
– Você figura no meu arco-íris.
– Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.
– Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.
– Não entendo, Dona Gata.
– Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
– Não estou claro, Dona Gata.
– Não é você que mete medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.”
Mia Couto, em O gato e o escuro; Cia das Letrinhas: 2008

Natureza morta, s/d






















