Ilustração de Maud Tousey Fangel.
Um bebê
Paulo Setúbal
Um bebê… Ai que ventura
Do nosso peito extravasa!
Há um mês que é a nossa loucura,
Que é a joia da nossa casa.
Mimo não há, sem enleio,
Que mais alinde as vivendas,
Do que um bercinho bem cheio
De laçarotes e rendas.
E nesse ninho de luxo,
— Com dois berloques e um guiso,
Ver um petiz, bem gorducho,
Que nos envia um sorriso.
Ah! Nada eu sei de mais preço,
Nem nada mais inocente,
Do que um sorriso travesso
Numa boquinha sem dente!
E ao ver-te, entre o fofo arranjo
Do teu bercinho tão doce,
Eu sinto bem que és um anjo
Que Deus ao mundo nos trouxe…
E assim, bebê cor de leite,
Com olhos da cor do mar,
Tu és o único enfeite
Do nosso lar!
Em: Alma cabocla, poesias de Paulo Setúbal, Paulo Setúbal, São Paulo, Ed. Carlos Pereira:s/d, 5ª edição [ Primeira edição foi em 1920]p. 179-180.