O tempo (t) uma questão de inadequação da linguagem… texto de Carlo Rovelli

17 06 2025
Chico Bento na escola, ilustração de Maurício de Sousa.

 

 

“… o que “é real”? O que “existe”? A resposta é que essa é uma pergunta mal formulada, quer dizer tudo e nada. Porque o adjetivo “real” é ambíguo, tem uma infinidade de significados. O verbo “existir” tem ainda mais. À pergunta: “Existe um boneco cujo nariz cresce quando conta mentiras?”, pode-se responder: “Claro que existe! É o Pinóquio!”; ou então: “Não, não existe, é apenas uma fábula inventada por Collodi”. As duas respostas estão corretas, porque usam o verbo “existir” com significados diferentes. Há tantas maneiras de se dizer que uma coisa existe: uma lei, uma pedra, uma nação, uma guerra, um personagem de uma comédia, um deus de uma religião a qual não professamos, o deus de uma religião em que acreditamos, um grande amor, um número… cada um desses entes “existe” e “é real” num sentido diferente do outro. Podemos nos perguntar em que sentido algo existe ou não (Pinóquio existe como personagem literário, não no registro civil italiano), ou se uma coisa existe num sentido determinado (existe uma regra que proíbe fazer roque no jogo de xadrez depois de mover a torre?). Perguntar-se “o que existe?” ou “o que é real?” em geral significa apenas se perguntar como queremos usar um verbo e um adjetivo.6 É uma questão gramatical, não sobre a natureza.”

 

Em: A ordem do tempo, Carlo Rovelli, tradução de Silvana Cobucci, Ed. Objetiva: 2018





Nossas cidades: São João del Rei

17 06 2025

São João del Rei, 1947

Quirino Campofiorito (Brasil, 1902-1993)

óleo sobre eucatex, 22 x 27 cm