Ladyce, poesia de Gessner Pompêo de Barros

5 06 2025
Ilustração de Maud Tousey Fangel.
 
 
Ladyce *

 

Gessner Pompêo de Barros

 

Pediu-me sua Mãe que, em versos, dedicasse 

este Álbum a você, minha querida,

onde o seu progredir se registrasse,

ou se fotografasse,

mês a mês, ano a ano, toda vida.

.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 

Pediu-me versos ternos a um bebê…

Mas dois bebês eu vejo: ela e você!

Isto porque, 

entre a filha e a netinha há pouca diferença 

— não há distância imensa…

Bem pouca distinção entre ambas faz

o coração dos seus avós e pais.

.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 

Ela é também bebê, que já cresceu,

que já sofreu, 

Que agora é Mãe e assim, vai realizando

o sublime destino da Mulher!

Você, novo bebê, que está iniciando, 

os passos para idêntico mister…

                   * * *

Você há de ter na vida o doce encanto

que ela oferece às nobres criaturas:

— o riso alegre, que afugenta o pranto,

— a graça com que Deus, lá das alturas,

— bênção divina —

o caminho dos bons sempre ilumina…

 

 

Em: Revista O Malho, volume XI, página 7

  • Poema escrito por meu avô materno, Gessner Pompêo de Barros. Vovô era advogado, mas também exerceu a profissão de escritor. Teve por algum tempo, não sei quanto tempo, uma coluna semanal no antigo jornal Última Hora, coluna sindicalizada que aparecia em muitos jornais do interior do país. Sendo mato-grossense, da época em que aquele era um só estado, suas colunas certamente ficaram conhecidas por lá. Minha sobrinha, que recentemente descobriu que seu bisavô era, como ela, advogado, hoje me mandou a foto da página da revista em que esse poema aparece. O poema eu tenho no meu álbum de bebê. Na primeira página.

Também neste álbum aparece um poema que meu pai, um cientista, químico industrial e professor de física, escreveu na mesma ocasião. Conta a lenda que enciumado pela poesia de vovô, ele também resolveu meter as mãos na poesia, para não ficar para trás. Papai não era um mau escritor. Tenho alguns de seus escritos publicados nos jornais das escolas que frequentou. Ele cresceu na época em que se decorava Os Lusíadas na escola (que ele frequentemente, chegada a hora apropriada, declamava — para embaraço total dessa filha, rs…) Um dia acho nas caixas que deixarei para os sobrinhos destrincharem, o álbum em questão e passo para o blog, e para o julgamento de vocês, meus leitores, a resposta do genro enciumado. Rs…rs…

Uma nota sobre meu nome: Ladyce (pronunciado Lêidice) é um nome americano, parece até que mamãe havia vislumbrado meu destino para assim me chamar, já que passei a maior parte de minha vida adulta nos Estados Unidos, eventualmente casando com um americano. Nunca foi um nome comum. É um nome antigo, e mais comum no final do século XIX e início do século XX. Mamãe tirou-o de um romance. E bateu o pé para que eu assim me chamasse, porque papai insistia que eu levasse o nome de sua avó materna, um nome de que minha mãe não gostava: Leopoldina.