“Junto à mesa, onde ardia o candelabro, Lúcio estava muito aplicado em levantar castelos de cartas para entreter Adélia.
Feliz idade em que a imaginação entre risos de prazer edifica palácios com essas figuras coloridas! Mais tarde, em vez de castelos de carta, são os castelos de vento, edificados com as ilusões e as esperanças de nossa alma. Vem um sopro de criança e arrasa o suntuoso palácio. O menino reúne as cartas e levanta novo castelo. O homem debalde tenta coligir as ilusões que tombaram: não encontra nem o pó; desfizeram-se em fumo.”
José de Alencar, O tronco do Ipê
Publicado pela primeira vez em 1871, foi o segundo romance regionalista de Alencar. Foi também o primeiro romance “de gente grande”, como minha mãe anunciou, quando me deu para ler nas férias de julho depois de eu completar dez anos no mês anterior. Nem sei quantas vezes o reli. Muitas. Já soube algumas partes de cor. Ainda sei nomear todos os personagens. Aliás foi o início de um bom relacionamento meu com o autor. A história se passa numa fazenda em Teresópolis, cidade com que eu estava familiarizada por passar férias lá. Há menções do rio Paquequer, assim como também acontece em O Guarani. Depois de O tronco do ipê, ainda jovem adolescente, cheia de histórias românticas na cabeça, li todos os outros “perfis de mulher’ dele, ou os chamados romances urbanos: Cinco minutos, A viuvinha, Lucíola (de que não gostei muito), A pata da gazela, Til. Mais tarde, não sei exatamente quando, provavelmente quando tinha quatorze anos, li Senhora, que se tornou um de meus livros favoritos de toda a minha juventude. Qual não foi minha boa surpresa saber, muitos anos depois, que Senhora havia sido traduzido para o inglês e fazia parte de muitos currículos de literatura sobre empoderamento feminino, em universidades nos Estados Unidos. Li também, algumas vezes, Iracema, de que gosto mais do que O Guarani, mas não cheguei a ler, Minas de Prata, nem O Gaúcho. Tínhamos a coleção toda lá em casa, mas esses, nunca chegaram a me interessar. Talvez seja a hora de voltar a Alencar, quem sabe?
Parti direto dos romances urbanos de Alencar para A mão e a luva e Helena de Machado de Assis. Essa foi a minha apresentação, pelas mãos de minha mãe a Machado. Funcionou porque apesar de ler Don Casmurro, depois aos quinze-dezesseis anos, ele não me interessou tanto quanto Memórias Póstumas de Brás Cubaslido em seguida, que foi por um bom tempo meu livro de cabeceira.
DETALHE de O castelo de cartas de Théodore Gérard, mostrado acima.