Cartas que me devolveste rasgadas, soneto de Alfredo de Barros

18 01 2025

Els Bleekrode lendo na cama,1936

Meijer Bleekrode (Holanda,1896-1943)

óleo sobre tela, 101 x 78 cm

 

 

Cartas que me devolveste rasgadas

 

Alfredo de Barros

 

Se é tudo quanto tens pra me dizer,

Fora melhor calar essa atitude.

Tinha mais graça e tinha mais virtude

Se m’o desses apenas a entender.

 

Se em teu amor por vezes eu não pude

O sentido dum gesto compreender,

— Propósitos de nunca responder

Têm um alcance que a ninguém ilude.

 

Tranquilamente, como sol que finda,

Morria o sonho sem olhar ainda

Para o rasto deixado antes de si. . .

 

Assim, talvez jamais acreditasse

Que só por ter beijado a tua face

Andei louco de amor atrás de ti.

 

 

Em: Versos de cinzas, Alfredo de Barros, Lourenço Marques {Maputo], 1946


Ações

Information

Deixe um comentário