Poema com pena, de Almir Correa

17 12 2024
Poema com pena

Almir Correa

 

Fiz um poema

e não sei se vale a pena

poemar.

É um poema com pena

pena do céu

pena da terra

pena do mar.

Não tem mais pena de índio

Porque índio já não se acha em nenhum lugar.

Mas ainda tem

pena de arara azul

pena de galinha sem cabeça

pena de pato pateta.

Tem tanta pena

pena até de travesseiro.

Só não tem pena nenhuma do burro

porque burro não tem pena.

 

Em: Poemas Malandrinhos, Almir Correa, São Paulo, Atual:1992

 





Nossas cidades: Mangaratiba

17 12 2024

Toca da velha, Mangaratiba, 1946

José Pancetti (Brasil, 1902-1958)

óleo sobre tela, 39 x 46 cm

 

Gosto muito desta tela.  Gosto da composição dela.  Há uma linha diagonal  invisível que separa a conturbada, cheia de ângulos, cena da mulher no tanque no canto esquerdo inferior, e  o que vemos no canto superior direito onde  águas plácidas apoiam canoas sonolentas descansando sem seus remadores. Essa dualidade perfeitamente balanceada é atraente.  Pancetti já estava aqui em sua fase madura, podemos ver que a partir da década de 40 ele vai abstraindo as formas do que representa chegando quase a imagens totalmente abstratas, salvo pelos títulos das praias que pintou.  De fato, grande parte das obras que tenho fotografadas das cidades costeiras do estado do Rio de Janeiro são de sua autoria.  Ele perambulou por toda a costa do estado trabalhando incessantemente.