Cartão Postal, 1ª metade do século XX.
As andorinhas
Coelho Neto
Ei-las de volta, enchendo o ar fino e o campo convalescente com os seus ríspidos trinços, com os ruflos das suas pequeninas asas pretas. Ei-las de volta, em bando — umas que pousam no beiral dos telheiros, bicando as penas, saracoteantes ; outras que seguem para o lado fresco das ilhas, onde os vinhais se enfolham.
Ei-las de volta, as andorinhas, que foram invernar em um país sem bruma, recendente e tépido.
Abrem-se todas as gelosias; querem todos vê-las; recebem-nas sorrindo.
Vergônteas nascem nos esqueletos das árvores e florinhas tenras abrem corolas tímidas.
Um azul limpo substitui a nivosa tristura do céu. Aí chega a primavera; começam a aparecer viçosos ramos. De todas as ruínas, de todas as cavernas, abrem coo chilreando, passarinhos novos.
É a vida que reaparece.
Primavera!
Em: Português para o Ginásio, José Cretella Júnior, Cia. Editora Nacional. 15ª edição, Sã Paulo, p. 48.
Raramente comento esses textos que posto. Mas um texto tão pequeno com tantas palavras que eu não conheço. Fica difícil!