Insônia, poesia de Reynaldo Valinho Alvarez

9 11 2023

Insônia

Joana Aslanian (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela, 73 x 91 cm

 

 

Ali onde se pescam amarguras,
a insônia se aprimora nas torturas.

 

 

Insônia

 

Reynaldo Valinho Alvarez

 

 

A manhã se aproxima e é sempre duro

quando o sol rompe a treva e inunda o escuro

de um sono que nem mesmo aconteceu.

Sinto-me novo e inútil Prometeu

a quem bicam o fígado, melhor

dizendo a mente, e que aprendeu de cor

os caminhos da noite soluçados,

como vagidos, em jardins murados,

numa vigília que não se escolheu.

Ah, estradas da noite, ah, poços fundos,

sempre cheios de lodo, tão imundos

deste vazio amortalhado em breu.

Ah, pontes sem destino, cruel fadiga

do tempo debulhado como espiga.

 

 

Em: A faca pelo fio: poemas reunidos, Reynaldo Valinho Alvarez, Rio de Janeiro, Imago: 1999, p.63


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