A um moribundo, poesia de Florbela Espanca

22 03 2023

Outono na Bavária, 1908

Wassily Kandinsky (Rússia-França, 1866-1944)

óleo sobre papelão, 33 x 45 cm

Centro Georges Pompidou, Paris

A um moribundo

 

Florbela Espanca

 

Não tenhas medo, não! Tranqüilamente,

Como adormece a noite pelo Outono,

Fecha os teus olhos, simples, docemente,

Como, à tarde, uma pomba que tem sono…

A cabeça reclina levemente

E os braços deixa-os ir ao abandono,

Como tombam, arfando, ao sol poente,

As asas de uma pomba que tem sono…

O que há depois? Depois?… O azul dos céus?

Um outro mundo? O eterno nada? Deus?

Um abismo? Um castigo? Uma guarida?

Que importa? Que te importa, ó moribundo?

– Seja o que for, será melhor que o mundo!

Tudo será melhor do que esta vida!…


Ações

Information

Deixe um comentário