Cena de praia, Suzanne com para-sol e Charles na espreguiçadeira, 1922
Lucien Hector Jonas (França 1880-1947)
Óleo sobre tela
Andava curiosa a respeito deste livro cujo sucesso atravessou o mundo. Finalmente quando algumas amigas decidiram ler, criei coragem e abracei o volume de quadrinhos. Não sou adepta da forma. Estava curiosa pois se trata de combinar duas artes que me são queridas: narrativa e desenho. Mas observo que essa combinação em novo artefato, mesmo mais rico do que os gibis da minha infância, enfraquece o impacto imoderado de imagens sem textos. Enquanto o limite físico em cada moldura, restringe a narrativa ao número de palavras a serem usadas, descartando o poder do subentendido, da nuance literária. As reticências se esvaziam de emoção. Ciente de que este tratamento da narrativa atrai adolescentes, jovens adultos além de artistas plásticos, desenhistas, cartunistas e que quadrinhos podem ser porta de entrada para aprofundamento de conhecimentos literários, não critico quem tenha essa preferência. Mas o resultado é que recebemos menos do que as duas artes em separado podem disseminar entre os leitores.
Mesmo levando em conta os senões apontados acima, achei Persépolis, de Marjane Satrapi, traduzido por Paulo Werneck, obra fascinante pela introdução ao grande público, sobretudo jovens, à complexa e milenar história do Irã e aos conflitos emocionais dos iranianos quando o país se divide sobre as consequências do golpe de estado de 1979. Da cronologia à crônica da Pérsia em séculos passados até sua transformação no final do século XX, o leitor tem, de forma sucinta e clara, um válido apanhado de acontecimentos que se transformam em terreno fértil para a imaginação. Além disso, assuntos atuais notadamente aqueles que se referem aos imigrantes iranianos e imigrantes muçulmanos na França, são abordados com opiniões objetivas e justificadas. O conteúdo emocional é bem explorado. Não há como não simpatizar com a revolta de Satrapi contra regras adotadas pelo governo francês, por exemplo em relação a costumes culturais e religiosos.
O livro é baseado na vida da autora. Entendemos a angústia da menina na saga dos imigrantes. Passo a passo seguimos o conflito emocional dela, suas duvidas e as de familiares e de iranianos mais liberais tanto em sua terra natal, como em questões de identidade depois da imigração. A série de restrições impostas pelo novo governo iraniano assim como os limites estabelecidos aos imigrantes na França, têm um desconcertante paralelo.
Este livro traz para o proscênio, com imagens e texto, a batalha em que imigrantes iranianos no país de origem assim como na Europa se veem envolvidos. Acho uma excelente forma de mostrar ao jovem adolescente da cultura ocidental as raízes de conflitos contemporâneos e os valores por trás de hábitos e costumes tão estrangeiros para os estados ocidentais.
Ótima obra de introdução à história contemporânea do Irã e boa apresentação dos costumes daqueles que seguem a religião muçulmana.
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