O casamento, [A boda], 1792
Francisco de Goya (Espanha, 1746 -1828)
óleo sobre tela, 269 x 396 cm
Museu do Prado
Plaza maior
Reynaldo Valinho Alvarez
O mundo, em guerra, não permite abraços.
Mas, nos rostos da rua, há os mesmos traços.
Diante de Goya, no Museu do Prado,
vejo sombras que as sombras circundantes
parecem reencarnar. Voltando à rua,
vou para o centro velho. Nestes rostos
que me fitam ou não, há retrarados
do mesmo Goya. Sombras tão goyescas
quanto as sombras que vi entre outras sombras.
Assombra-me o prodígio ao sol ardente
de uma Espanha estival. Que liame estreita
os vínculos dos tempos num só tempo?
Que força une as cadeias com que Cronos
ligou as mãos de tantos entre os séculos?
Agora encaro a praça e vou contando,
como os níqueis do bolso, tantos Goyas.
Em: A faca pelo fio: poemas reunidos, Reynaldo Valinho Alvarez, Rio de Janeiro, Imago: 1999, p.59
NOTA: esta postagem é uma homenagem a Reynaldo Valinho Alvarez que faleceu esta semana, aos noventa anos. Um dos poetas contemporâneos de que mais gosto, com provam as diversas poesias de alguns de seus livros que possuo.