Leitura
Sylvie Vanlerberghe (França, 1963)
óleo sobre tela
Dias de leitura
[20 de março de 1907]
Você provavelmente lera, Mémoires de la comtesse de Boigne. Há “tantos doentes” nesse momento que os livros encontram leitores, até mesmo leitoras. Sem dúvida, quando não podemos sair e fazer visitas, preferimos recebê-las a ler. Mas, “nesses tempos de epidemias”, até as visitas que recebemos representam algum perigo. É a senhora que da porta onde se detém por um momento – apenas por um momento -, e de onde, emoldurando sua ameaça, grita: “Vocês não temem a caxumba e a escarlatina? Previno-os de que minha filha e meus netos estão doentes. Posso entrar?”; e entra sem esperar resposta.
E outra, menos franca, que mostra seu relógio: “Preciso voltar logo: minhas três filhas estão com rubéola; vou de uma a outra; minha inglesa está acamada desde ontem com uma febre alta, e temo ser minha vez de ficar doente, pois me senti mal ao levantar. Mas fiz questão de fazer um grande esforço para vir vê-lo…”. Então preferimos não receber muito, e, como não podemos telefonar sempre, lemos. Só lemos em último caso. …
[…]
… a partir do momento em que nos resignamos a ler, escolhermos de preferência livros como as memórias da sra. de Boigne, livros que dão a ilusão de continuarmos a fazer visitas, a fazer visitas às pessoas que não pudemos visitar, porque ainda não éramos nascidos sob Luís XVI e que, de resto, não serão muito diferentes daquelas que conhecemos, pois levam quase os mesmos sobrenomes que elas, seus descendentes e nossos amigos, os quais, por uma comovente delicadeza para com a nossa fraca memória. conservaram os mesmos nomes e ainda se chamam: Odon, Ghislain, Nivelon, Victurnien, Josselin, Léonor, Artus, Tucdal, Adhéaume ou Raunaulphes. Belos nomes de batismo, aliás, e dos quais não deveríamos sorrir; eles provêm de um passado tão profundo que em seu esplendor insólito parecem brilhar misteriosamente como esses nomes de profetas e santos inscritos abreviados nos vitrais de nossas catedrais.”
Em: Salões de Paris, Marcel Proust, tradução Caroline Fretin de Freitas e Celina Olga de Souza, São Paulo, Carambaia: 2018, 2ª edição, pp. 87 e 90.





Bacana! eu comprei esse livro recentemente, foi para a fila como sempre! Ando lenta com as leituras e sem vontade, vários iniciados! Leituras interessantes, mas meu estado de ânimo não está lá essas coisas. Mas gosto de ver trechos de livros.
Pois é… Estou há 3 meses em casa. Isolamento social. Primeiro mês foi ótimo. Tirei de letra. Segundo mais ou menos. Este terceiro mês está bem mais difícil. Agora o RJ deve reabrir em 1 semana. Algumas coisas já reabriram, poucas. E a minha atenção está péssima. A única coisa que tenho conseguido ler são memórias….