O relógio do saber, século XV. — L’Horloge de Sapience (Bruxelles, Bibliothèque Royale , ms. IV 111
O relógio…
Jorge de Lima
Relógio, meu amigo, és a Vida em Segundos…
Consulto-te: um segundo! E quem sabe se agora,
Como eu próprio, a pensar, pensará doutros mundos
Alma que filosofa e investiga e labora?
Há de a morte ceifar somas de moribundos.
O relógio trabalha… E um sorri e outro chora,
Nas cavernas, no mar ou nos antros profundos
Ou no abismo que assombra e que assusta e apavora…
Relógio, meu amigo, és o meu companheiro,
Que aos vencidos, aos réus, aos párias e ao morfético
Tem posturas de algoz e gestos de coveiro…
Relógio, meu amigo, as blasfêmias e a prece,
Tudo encerra o segundo, insólito — sintético:
A volúpia do beijo e a mágoa que enlouquece!
[A Instrução, Maceió, 1907]
Em: Poesias Completas, Jorge de Lima, vol. I, Rio de Janeiro, Cia. José Aguilar Editora: 1974.p. 45
Mulher lendo com cachorro
Machado de Assis (1839 – 1908)



