Três mulheres japonesas, c. 1793
Kitagawa Utamaro (Japão, 1786-1864)
xilogravura policromada, 54 x 94 cm
2016 trouxe-me alguns livros pequeninos e impactantes. Belos e sucintos. Simples na aparência, complexos no que entregam. O fuzil de caça do escritor japonês Yasushi Inoue é um deles. Uma pequena obra prima, um diamante facetado pelas cinco vozes que o constroem.
Um poeta publica numa revista de caça, um poema-prosa, baseado na figura de um homem desconhecido que viu um dia numa paisagem de inverno com um fuzil nas costas. Ele dá ao poema-prosa o nome: O fuzil de caça. (Curiosamente o mesmo título da obra que temos em mãos.) O poema pouco tem a ver com a temática da revista em que apareceu. O tempo passa. Eis que o poeta recebe uma carta de um leitor se identificando como o personagem daquele poema. A carta e sucinta e direta não deixando muita informação sobre seu autor. No entanto, ele recomenda ao poeta que leia as cartas num pacote que mandará em futuro próximo. para que entenda o que pensava naquela manhã de inverno. Dias depois o poeta recebe um pacote com cartas de três mulheres diferentes que endereçadas ao caçador descrevem-no de acordo com cada uma de suas visões: a sobrinha,a amante e a esposa.
É um jogo de espelhos. Primeiro temos a visão do poeta sobre um homem desconhecido. Lemos o poema-prosa e nós mesmos construímos um personagem, vagamente baseado no poema. Depois alguém se reconhece naquele poema. E assim como o poeta, cujo nome não é revelado, fazemos novos conceitos sobre esse caçador através primeiro, de sua formalidade ao se comunicar depois nas vozes de três mulheres distintas, que a ele se dirigiam. O jogo epistolar é fascinante e Josuke Misugi, personagem principal, emerge multifacetado. Que isso seja compreendido em 102 paginas é fenomenal.
Yasushi Inoue
Esse foi o primeiro livro do autor que li. E agora Yasushi Inoue irá para a lista de autores que preciso ler. É autor de quase cinquenta obras e poucas estão traduzidas para o português, mas há muitas em inglês. Não só ele me seduziu pela complexa construção dessa obra, pela ambiguidade deixada entre o texto publicado na revista e aquele que lemos, pelas vozes individuais de cada uma das mulheres; como ele também me impressionou pela beleza da linguagem e pelas elipses necessárias para construir em três dimensões o enigmático caçador.
Recomendo com prazer essa pequena obra.
Maravilha! Ficamos fascinados pela sua narrativa e mto curiosos e fascinados pela história do autor e do livro. Obrigada