A companhia de um cão, texto de William Boyd

14 04 2016

 

393.0LJovem homem e seu cão, 2005

Mihail Aleksandrov (Rússia/EUA, 1949)

óleo sobre tela,  55 x 65 cm

 

 

“Senti uma espécie de aflição tão intensa e pura, que achei que fosse morrer. Uivei feito um bebê com meu cachorro nos braços. Então coloquei-o em uma caixa de vinho, e o levei para o jardim onde o enterrei debaixo de uma cerejeira.

Ele é só um cachorro velho, digo para mim mesmo, e viveu uma vida de cachorro plena e feliz. Mas o que me deixa indescritivelmente triste, é que, sem ele, fico sem amor na vida. Pode parecer estúpido, mas eu o amei e sei que ele me amou. Isso significou que houve um fluxo descomplicado de amor recíproco na minha vida e acho difícil admitir que terminou. Olhe só para mim, murmurando, mas é verdade, é verdade. E, ao mesmo tempo, sei que uma parte da  minha tristeza é apenas autopiedade disfarçada. Precisei daquela troca e estou preocupado por não saber como viverei sem ela nem se conseguirei arranjar um substituto — quem dera fosse tão fácil quanto comprar um novo cachorro. Sinto muita pena de mim mesmo — é isso que é aflição.”

 

Em: As aventuras de um coração humano, William Boyd, Rio de Janeiro, Rocco: 2008, tradução de Antônio E. de Moura Filho, p. 503-4.


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