Ilustração de Russell Strambrook.
Sob um pessegueiro
Paulo Setúbal
Ao Ademar, irmão e amigo
Foi pelo tempo alegre da moenda,
Quando aos quinze anos, tudo nos sorria,
Que nós tecemos, juntos, na fazenda,
Toda uma história de infantil poesia.
E sob um pessegueiro, amplo e robusto,
Cheio de frutos e de passarinhos,
Foi que nós ambos, pálidos de susto,
Nos encontramos certa vez, sozinhos.
Tão confusos, tão tímidos ficamos,
Ao vermo-nos juntinhos no pomar,
Que nós, olhando os pêssegos nos ramos,
Nem tínhamos coragem de falar.
Mas de repente — que ventura louca!
Ela sorriu-me, trêmula de pejo,
E eu lhe furtei da pequenina boca,
Um pequenino e delicioso beijo…
Foi desde então que na minh’alma eu trouxe,
Como lembrança desse amor fagueiro,
Esse beijinho estaladinho e doce,
Que nós trocamos sob o pessegueiro.
Em: Alma cabocla,Poesias de Paulo Setúbal, Paulo Setúbal, São Paulo, Ed. Carlos Pereira:s/d, 5ª edição [ Primeira edição foi em 1920]p. 87-88
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