Dança no Moulin de la Galette, 1876
Pierre Auguste Renoir (França, 1841-1919)
Óleo sobre tela, 131 x 175 cm
Musée d’Orsay, Paris
Hoje dando uma olhadinha na página do Facebook de um dos meus blogs preferidos, o do Mariel Fenandes, achei a seguinte frase:
“A gente não vê as coisas como elas são. A gente vê as coisas como nós somos”.
Na quarta-feira eu tinha acabado de conversar com algumas amigas justamente sobre isso. Mas eu falava da pintura figurativa. Ela jamais acabará, como muitos imaginaram logo depois da Segunda Guerra Mundial. Ela não vai acabar porque cada pintor vê as coisas de maneira única e diferente. Cada qual vê as coisas como eles são.
DETALHE: Dança no Moulin de la Galette de Auguste Renoir, 1876.
Assim o quadro acima, do pintor francês impressionista Auguste Renoir, um dos mais conhecidos emblemas da pintura impressionista francesa, mostra uma festa, uma dança em um dos locais populares de Paris dos últimos anos do século XIX. O local não era frequentado por pessoas ricas. Era de fato frequentado por jovens mulheres, trabalhadoras, costureiras, lavadeiras, passadeiras, e demais profissionais de serviço, que precisavam fazer um dinheirinho extra e, no mínimo, dançavam por música. Mas a cena acima nos dá a impressão de uma grande festa, de uma sociedade feliz e sem divisões de classes sociais. Há homens de chapéu de palha, de cartola, de chapéu coco e mulheres com belos vestidos coloridos. Todos se olham, todos sorriem e exalam uma sensualidade comedida. Namoricos aparecem em pleno desabrochar. Montmartre, na época, onde está localizado até hoje o Moulin de la Galette, era um bairro decadente e pobre, que havia sofrido muito com a revolta civil, que tomara o governo por 3 meses em 1871, chamada de Comuna de Paris. Mas a tela de Renoir não demonstra nenhum sinal de uma vida pobre. Muito pelo contrário, o status social de cada um é irrelevante. O que importa é a festa, a alegria, a camaradagem. Renoir quis ver a vida assim.
Moulin de la Galette, 1877
Federico Zandomeneghi ( Itália, 1841-1917)
Óleo sobre tela, 80 x 120 cm
Coleção Particular
O pintor italiano Federico Zandomeneghi toma o lado oposto da visão. Cuidadosamente pinta, um ano depois de Renoir, o mesmo local. Desta vez vemos o Moulin de la Galette do lado de fora, na entrada. Aí, diferente da imagem que temos de Renoir, vemos uma fila de mulheres cansadas, entrando no estabelecimento em fila, umas se apoiando às outras. Mais mulheres do que homens. Vestidos escuros, do dia a dia de trabalho; uma rua mais ou menos abandonada, com cachorros de rua vagando a esmo. As cores são menos alegres. Temos, na verdade, o retrato de pessoas resignadas a mais umas horas de trabalho.
DETALHE: Moulin de la Galette, de Federico Zandomeneghi, 1877.
Onde esta a realidade?
Não sabemos. Porque ela está conosco. Nossas preferências irão nos aproximar mais de um pintor do que do outro. Não há verdade. Não há uma única realidade.







