Chico Bento tem um pensamento desagradável, ilustração de Maurício de Sousa.
Caboclo Espirituoso
[de uma história contada por meus avós]
Walter Nieble de Freitas
“Nhô” Vicente, certo dia,
Montando o lindo alazão,
Foi fazer uma visita
Ao compadre Sebastião.
Cavalgou horas e horas,
Chegou ao entardecer:
Sua barriga roncava
De vontade de comer!
Ao vê-lo abrir a porteira,
“Nhô” Sebastião diz contente:
— Até que um dia compadre,
Você se lembrou da gente!
Apeie, vamos chegar.
Não repare na palhoça.
Como é que vai a comadre?
Vá entrando que a casa é nossa!
Tenho muito o que contar,
Sente-se aí no banquinho.
Você sabe que morreu
A mulher do Vadozinho?…
Também, a sogra do Zeca,
A jararaca mordeu:
A velha não sentiu nada
E a pobre cobra morreu!…
Sem perceber que a visita,
De fome quase morria,
“Nhô” Sebastião, na conversa,
Longas horas consumia…
“Nhô” Vicente paciencioso,
Tudo ouvia sem falar;
Porém, a sua barriga
Não parava de roncar!
Notando que seu amigo
Parecia nada ouvir,
Sentiu, o dono da casa,
Que o melhor era dormir.
Nesta altura, perguntou-lhe
Numa rural cortesia:
— O compadre lava os pés?
Vou mandar vir a bacia.
Respondeu-lhe “Nhô” Vicente,
— Isso não! de modo algum!
Acho muito perigoso
Lavar os pés em jejum.
Em: Barquinhos de papel, poesias infantis de Walter Nieble de Freitas, São Paulo, Editora Difusora Cultural: 1961, pp: 75-78.





Gostei.
Que bom!
🙂