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Beryl Cook (Inglaterra, 1926-2008)
silkscreen, 61 x 56cm
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Multidão
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Armindo Rodrigues
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Esta gente que vai e vem,
de cá para lá,
de lá para cá,
que se cruza comigo,
que esbarra comigo,
que tem com certeza
os seus dramas iguais aos meus,
as suas esperanças iguais à minhas,
não sabe nada da minha vida,
nem eu sei dos seus segredos.
Cada um segue absorto em si
como se fosse de olhos fechados
e não tivesse as mãos para dar
a outras mãos desamparadas.
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Em: Voz arremessada no caminho; poemas, Armindo Rodrigues, Lisboa: 1943, p. 52






Gosto muito da poesia do Armindo Rodrigues 🙂
Mestra, a poesia é bacana, mas a sensibilidade da pintura (que casa muito bem com a primeira) é assustadora: por mais que nos consideremos únicos, no fundo somos apenas combinações pouco originais e muito repetitivas de uns poucos elementos básicos.
E servimos apenas para sermos explorados pelo marketing: da indústria do cinema, da indústria da moda, da indústria do turismo.
Essa é a constatação da solidão da vida atual, mas acho q. sempre foi assim…
Nelson Rodrigues, um grande carioca nascido em Recife, dizia que “não há solidão maior do que a companhia de um paulista”. 😎
A muito antiga guerra entre cidades.
Nelson Rodrigues precisava viajar um pouco… Acredito que o clima tenha muito a ver a expansividade das pessoas… Pode ser uma teoria antiga, com um pé em determinismo geográfico, mas acho que há algo ainda a ser estudado a esse respeito. 🙂