Multidão, poesia de Armindo Rodrigues

12 02 2014

beryl cook, tenerife daysDias em Tenerife, 2004

Beryl Cook (Inglaterra, 1926-2008)

silkscreen, 61 x 56cm

Multidão

Armindo Rodrigues

Esta gente que vai e vem,

de cá para lá,

de lá para cá,

que se cruza comigo,

que esbarra comigo,

que tem com certeza

os seus dramas iguais aos meus,

as suas esperanças iguais à minhas,

não sabe nada da minha vida,

nem eu sei dos seus segredos.

Cada um segue absorto em si

como se fosse de olhos fechados

e não tivesse as mãos para dar

a outras mãos desamparadas.

Em: Voz arremessada no caminho; poemas, Armindo Rodrigues, Lisboa: 1943, p. 52


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5 responses

12 02 2014
Avatar de RAA RAA

Gosto muito da poesia do Armindo Rodrigues 🙂

12 02 2014
Avatar de musicaefantasia musicaefantasia

Mestra, a poesia é bacana, mas a sensibilidade da pintura (que casa muito bem com a primeira) é assustadora: por mais que nos consideremos únicos, no fundo somos apenas combinações pouco originais e muito repetitivas de uns poucos elementos básicos.

E servimos apenas para sermos explorados pelo marketing: da indústria do cinema, da indústria da moda, da indústria do turismo.

13 02 2014
Avatar de Maria Helena Oswaldo Cruz Maria Helena Oswaldo Cruz

Essa é a constatação da solidão da vida atual, mas acho q. sempre foi assim…

18 02 2014
Avatar de musicaefantasia musicaefantasia

Nelson Rodrigues, um grande carioca nascido em Recife, dizia que “não há solidão maior do que a companhia de um paulista”. 😎

A muito antiga guerra entre cidades.

18 02 2014
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Nelson Rodrigues precisava viajar um pouco… Acredito que o clima tenha muito a ver a expansividade das pessoas… Pode ser uma teoria antiga, com um pé em determinismo geográfico, mas acho que há algo ainda a ser estudado a esse respeito. 🙂

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