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Cyrill Edward Power (Inglaterra, 1871-1951)
gravura em linóleo
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Então, do Pará ao Rio Grande do Sul, o brasileiro lê em média 6 minutos por dia. É uma constatação devastadora. A pesquisa, feita pelo IBGE, como noticiou o jornal O Globo ontem, mostra que lemos 5 vezes menos por dia do que os americanos durante a semana e 6 vezes menos do que eles durante o fim de semana. Essa leitura inclui qualquer leitura. Não estamos falando simplesmente de romances, de entretenimento. Dedicamos muito pouco tempo à leitura de qualquer coisa: jornal, texto científico, romance, texto histórico, matemático, poesia, ciências naturais, físicas, qualquer coisa, provavelmente até livros de culinária.
Agora, como é que queremos ir para frente? Progredir? Tornar este país competitivo?
Vejo com frequência nas redes sociais um enorme ressentimento contra os nossos vizinhos do norte, os americanos porque “querem dominar o mundo” culturalmente. Mas, eles pelo menos se dedicam a aprender, a ler, a explandir os conhecimentos. Domínio cultural, através de filmes, de livros, de programas de televisão acontece mesmo. É subproduto de um país que se dedicou a uma educação generalizada para toda a população, de uma cultura que se dedicou ao estudo e à leitura. De um país que dá todo o apoio possível à criatividade quer ela seja científica ou não. Somos levados no cabresto por eles, sim, culturalmente. Mas para lutar contra esse domínio, não adianta sair às ruas, nem pedir dinheiro para o governo bancar projetos culturais. Porque os brasileiros nem sequer sabem da importância desses projetos. Não sabem porque não lêem. E niguém nasceu sabendo. E a única maneira de se complementar o que se conhece, o que se sabe é lendo.
Não é culpa da internet. Hoje para se usar a internet, para se construir uma base de conhecimento que possa levar ao manuseio da internet, da cultura virtual, não se pode ser unicamente um usuário, um visitante das páginas sociais e bater papo com os amigos. É um erro pensar que visitar os amigos nas redes sociais é dominar a internet, que é progresso. Para que possamos realmente fazer uma contribuição para o mundo virtual, é necessário saber como virar esse conhecimento técnico a nosso favor. E no entanto, sem ler, não chegaremos lá.
Não lemos. Portanto não expandimos os nossos cérebros, não aumentamos o nosso conhecimento pragmático ou emocional. Estamos nos tornando, em passos rápidos, uma cultura de zumbis, de não pensadores. Em compensação gostamos de vegetar em frente da televisão. 85% do tempo livre dos brasileiros é gasto em frente da televisão. Deixamos assim que outros pensem por nós.
Há horas que dá muito desânimo.
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Fonte: Brasileiro passa muito tempo longe dos livros, O GLOBO






