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Dan Griggs (EUA, 1948)
óleo sobre tela
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“Um livro é como uma garrafa no mar que chega a bom porto. Não sabemos quem a colocou na água. Não sabemos tampouco porque a encontramos e menos ainda como ela nos achou.”
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Jean-Claude Germain
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Dan Griggs (EUA, 1948)
óleo sobre tela
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Jean-Claude Germain
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Ilustração de Isabelle Arsenault.–
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Il est perdu jadis.
Mais il est vivant encore.
Maintenant et toujours.
SAINT-JOHN PERSE
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João Manuel Simões
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São dois meninos.
Coexistem em mim
constantemente:
o adulto terrestre
e o jovem alado,
seu mestre.
Inquilinos,
até o fim,
um dos quartos da mente,
outro do corpo cansado.
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Em: Poemas da infância: antologia poética, João Manuel Simões, Curitiba, HDV:1989
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O Clóvis vem aí, 1977
Aloysio Zaluar (Brasil, 1937)
óleo sobre madeira
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21 de fevereiro [1939]
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Hoje, terça-feira gorda, é o dia dos préstitos das grandes sociedades e, pelos anúncios de página inteira com evoés e versalhada, haverá muita alegoria estadonovista com subvencionados ouropeis, que os míopes poderão tomar como realidades estadonovistas. Que saiam! A estas horas já devem estar na rua, enguiçando nas curvas mais fechadas, com suas fanfarras, com suas encarapitadas deidades seminuas, que Aldina tão doidamente invejava, com seus fogos-de-bengala deixando acessos de tosse na esteira. Aqui permanecerei distante de tanta beleza. Um toque de incubada melancolia acordou comigo, comigo esteve o dia inteiro como uma dormência – refuguei a leitura, refuguei o rádio, a vitrola, a conversa, a visita dos amigos, dormitei quanto pude, entreguei-me sem resistência ao devaneio, algo doce, algo de prisioneiro, pescador à beira do escuro mar com cantos de sereias.
Luísa não compreende a súbita névoa, que a convivência é caixa perene de surpresas:
— Que é que você tem, filhotinho?
— Também não sei, querida. Também não sei.
E certamente estaria falando a verdade. Há verdades que se falam.
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Em: A Mudança, segundo tomo de O Espelho Partido, Marques Rebelo, São Paulo, Martins:1962.


