Tédio: que fazer com ele?

25 08 2011

Cascão entediado, ilustração Maurício de Sousa.

As férias de julho acabaram, mas ainda escutamos os ecos das reclamações dos filhos, sobrinhos ou crianças e adolescentes da família nesse período:  “Não tem nada pra fazer…”   O tédio que parecia ser impossível de aparecer nas férias quando as olhávamos das salas de aula, de repente, se instala em casa e as crianças que se voltam  para a TV, passam o dia no sofá, trocando os olhos de sono e sem entusiasmo.  Hoje me lembrei dessas expressões de fastio, pois venho de ler um artigo O tédio pode ser bom para você [Boredom is good for you, study claims], que enumera as boas conseqüências do enfado.  Sim, elas existem. 

O enfado, fastio, tédio, aborrecimento acontece com todas as pessoas, quer elas sejam idosas ou adolescentes, crianças ou adultos.  E contrário ao que muitos pensam o tédio não é uma conseqüência da solidão.  É comum, numa crise de enfado, invejarmos as pessoas que têm muitos amigos, porque parece que ela conseguem evitar o fastio.  Mas as relações superficiais, que podemos desenvolver em grandes números freqüêntemente levam a uma sensação de vazio, e acabamos por questionar se aqueles que têm muitos amigos não são de fato amigos de ninguém, como bem demonstra o médico francês Gilles R. Lapointe, no artigo Truques para combater o tédio [Des trucs pour vaincre l’ennui], que lembra também que a solidão não tem efeitos negativos.   Há diversas maneiras de reagirmos ao tédio.  Podemos chorar, comer, dormir, beber, gritar.  Mas podemos também: ler, estudar, trabalhar, escrever.  É importante aprender desde cedo, desde criança, a lidar com o enfado, para construir maneiras positivas de  encará-lo, maneiras que poderemos levar à nossa fase adulta.

Cascão farto de tédio, ilustração Maurício de Sousa.

Para salvar as nossas consciências de qualquer culpa que possamos ter tido vendo nossas crianças aborrecidas com a “falta do que fazer”,  vou ajudar relembrando pontos positivos desse comportamento:

1 – O tédio estimula a mente para dentro de si mesma.  A conseqüência é a reflexão.  Pensar em causas e conseqüências,  encontrar seus próprios valores.

2 – O tédio também aumenta a criatividade.  Inovações em geral são conseqüência de alguém achar que há de haver uma “solução melhor” para uma tarefa específica.

3 – O tédio é um dos elementos essenciais para o adormecimento da mente e em conseqüência, para o sono.

4 – O tédio pode levar as pessoas a desempenharem tarefas em prol da sociedade em geral.  Um exemplo: doar sangue, ser voluntário num abrigo para idosos.

5 – O tédio também ensina a paciência.  E explorar esse sentimento ajuda a construir caráter.  Além de ensinar que nem tudo na vida é divertimento.

6 – O tédio ensina a fazermos bons amigos de nós mesmo ou seja, aprendemos que estar só não significa estar entediado. 

Cascão não se aguenta de tédio, ilustração Maurício de Sousa.

O tédio acontece com todas as pessoas, quer sejam idosas ou adolescentes, crianças ou adultos.  Mas se o enfado se instala na sua vida, troca a sua rotina, faz com que você esteja constantemente triste, se ele atrapalha,  pode ser resultado de um estado psicológico depressivo, talvez causado por uma perda de um ente querido, por ansiedade, angústia.  Quando você passa a achar que sua vida perdei o sentido e o tédio se instalou, aí sim, é um caso mais sério, mais delicado.  Esse tédio, quando parece instalado no dia a dia deve ser controlado, combatido mesmo, de uma forma positiva:  procurar os amigos, lembrar-se de que você não está sozinho é o início de uma solução a longo prazo.  Rever amigos é uma excelente maneira de combater o fastio.  Saia de casa, do seu ambiente familiar, faça um esforço para tomar um caminho diferente para o mercado, tomar um ônibus e vá até o fim da linha.  Veja coisas novas e diferentes, sem precisar fazer muito esforço.   Redescubra alguns interesses, explore um hobby deixado de lado. 

Comece por Identificar as causas de seu tédio e faça uma lista das pequenas mudanças em sua vida que poderão tirá-lo desse predicamento.  “A inércia leva à morte psicológica”, diz Gilles R. Lapointe.   Mova-se, crie, invente,  produza, visite pessoas, faça uma boa ação, mas acima de tudo:  MOVA-SE.

É importante organizar o seu tempo, principalmente para ter uma vida bem equilibrada entre lazer e trabalho.   Separe dentre as pessoas que você conhece aqueles que são os verdadeiros amigos e aqueles que são conhecidos.  Os amigos sinceros em geral são poucos.   Dedique-se a eles.

Mas lembre-se de que é normal ficar entediado.  E muita coisa boa, mudanças positivas podem vir das pequenas atitudes que tomamos para enfrentá-lo.  O tédio é quase sempre essencial à criatividade.

FONTES:

VIRAGE, The Guardian 


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