A dança do tangará
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Álvaro Moreyra
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Naquela noite danada
em que a formiga rogou
a praga contra a cigarra:
— Cantava, não é? Cantou?
Pois, então, agora dance! –
naquela noite danada
aconteceu que de um galho,
vizinho do bangalô
onde a formiga morava,
um passarinho escutou
essas palavras malvadas.
Mas, malvadas não achou.
Ao contrário da cigarra,
o passarinho gostou.
Gostou tanto, que em seguida,
dançou, dançou, dançou.
Nunca mais quis outra vida.
Dançou sozinho, primeiro.
Depois, com par. Afinal,
bateu na testa e acabou
formando uma companhia
de bailado brasileiro,
bem nosso, bem nacional.
Artistas disciplinados.
Formam roda nos caminhos
e repetem sempre igual,
na cadência que a embalança,
ida e volta, volta e ida,
a dança do tangará,
mais alegre do que a dança
que agente dança na vida
que se chama esperança,
ida e volta, volta e ida…
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Em: Poesia brasileira para a infância de Cassiano Nunes e Mário da Silva brito, Coleção Henriqueta, São Paulo, Saraiva: 1968
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Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreyra da Silva (Porto Alegre, 1888 – Rio de Janeiro, 1964) Poeta, cronista, jornalista, teatrólogo, radialista . Completou o curso de ciências e letras (1907). Em 1908, iniciou-se no jornalismo. No Rio de Janeiro (1910), entregou-se ao jornalismo na redação da revista “Fon-Fon”. Diplomou-se em direito (1912). Fundou, junto com Eugênia Moreira, o “Teatro de Brinquedo”. Eleito em 1959 para a ABL, ocupou a cadeira 21, sucedendo a Olegário Mariano.
Obras:
Degenerada, poesia, 1909
Casa desmoronada, poesia, 1909
Elegia da bruma, poesia, 1910
Legenda da luz e da vida, poesia, 1911
Um sorriso para tudo, prosa, 1915
Lenda das rosas, poesia, 1916
O outro lado da vida, prosa, 1921
A cidade mulher, prosa, 1923
Cocaína, prosa, 1924
A boneca vestida de Arlequim, prosa, 1927
Circo, poesia, 1929
Adão e Eva e outros membros da família, teatro, 1929
Caixinha dos três segredos, poesia, 1933
O Brasil continua, prosa, 1933
Tempo perdido, prosa, 1936
Teatro espanhol na Renascenç, prosa, 1946
As amargas, não…, prosa, 1954
O dia nos olhos, prosa, 1955
Havia uma oliveira no jardim, prosa, 1958
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Veja o vídeo do tangará no seu ritual acasalador:
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