Essa foto foi retirada do catálogo de um leilão nos Estados Unidos em 2007. Não tenho mais nenhuma informação sobre a artista. Se alguém souber mais sobre a pintora, eu apreciaria mais dados.
[restaurado e modificado pelo próprio autor em 1964]
Emiliano Di Cavalcanti ( Brasil, 1897-1976)
óleo, 4,5m x 5,5m
Praça Tiradentes, Rio de Janeiro
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Hoje, perambulando pelos meus livros voltei a ler algumas passagens de viajantes pelo Brasil ( uma das minhas leituras prediletas, assim como biografias) e me deparei com essa interessante descrição da festa de aniversário do Imperador D. Pedro II, celebrada na Bahia. O texto é do Dr. Daniel P. Kidder, que estava na Bahia na ocasião. Ele e seu amigo James C. Fletcher escreveram O Brasil e os Brasileiros: esboço histórico e descritivo, que foi pubicado no Brasil em São Paulo, em 1941, pela Cia Editora Nacional com tradução de Elias Dolianiti. A minha fonte, no entanto, é o livro Coqueiros e Chapadões: Sergipe e Bahia, uma coletânea de textos feita por Ernani Silva Bruno, com organização de Diaulas Riedel, publicado em 1959 peloa Editora Cultrix de São Paulo, capítulo de narrativa do Reverendo norte-americano James C. Fletcher, que esteve percorrendo o Brasil como missionário, entre os anos de 1851 e 1865. O título dado a este texto é Ladeiras e Igrejas ( Na Bahia de Todos os Santos, 1855). Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei. A meu ver já se esboçavam muito bem algumas características bem brasileiras. Numa época em que as mulheres ainda se vestiam com pesadas mantilhas, a festa de aniversário do imperador parece uma ocasião sem igual para abrir uma brecha nas pesadas regras sociais da época. Note-se a mistura de raças e de classes sociais assim como a música como traço de união entre os brasileiros.
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“A calma das noites de verão produz sempre um encantamento sobre os nossos sentidos, mas havia uma expressão especial naquele espetáculo. Não somente o observar se podia deleitar com as variadas e engenhosas exibições de luz artificial em torno dele, como também, erguendo seus olhos para o empírio, podia aí contemplar a obra do Todo Poderoso, tão gloriosamente desdobrado nas brilhantes constelações do céu austral.
A riqueza, o luxo e a beleza das baianas nunca se ostentaram com tanta felicidade como no seio da multidão que formada de milhares de pessoas assistia e tomava parte no espetáculo. Que melhor ocasião se ofereceria do que aquela para um espírito disposto a filosofar sobre as coisas humanas! Da velhice até a alegre juventude, nenhuma idade ou situação da vida deixava de estar ali representada.
O militar e o civil, o titular, o milionário e o escravo, todos se misturavam em um prazer comum. Nunca tão numerosa freqüência de elementos femininos havia sido observada, emprestando sua graça a uma festividade pública. Mães, filhas, esposas, irmãs, que raramente tinham permissão para deixar o ambiente doméstico, exceto para comparecer à missa da manhã, penduravam-se aos braços de seus cavalheiros e olhavam com indisfarçável espanto para os encantos que mais pareciam mágica, de tudo o que viam diante de seus olhos e em volta de si. As cabeleiras negras e ondeantes, os olhos mais negros ainda e faiscantes, de uma beldade brasileira, juntamente com sua face às vezes também levemente sombreada, mostravam-se com grande encanto, tanto maior porque não as escondiam as abas do chapéu da moda. As dobras graciosas de suas mantilhas, ou do rico e finíssimo véu que algumas vezes as substitui, usado de maneira indescritível, por cima do largo, alto e artístico chapéu que lhe adorna a cabeça, dificilmente pode ser imitado por uma moda estrangeira. Todavia, o forte de uma dama brasileira está no seu violão, e nas doces modinhas que ela canta acompanhando-lhe as notas.”
Em: Poesia brasileira para a infância de Cassiano Nunes e Mário da Silva brito, Coleção Henriqueta, São Paulo, Saraiva: 1968
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Álvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreyra da Silva (Porto Alegre, 1888 – Rio de Janeiro, 1964) Poeta, cronista, jornalista, teatrólogo, radialista . Completou o curso de ciências e letras (1907). Em 1908, iniciou-se no jornalismo. No Rio de Janeiro (1910), entregou-se ao jornalismo na redação da revista “Fon-Fon”. Diplomou-se em direito (1912). Fundou, junto com Eugênia Moreira, o “Teatro de Brinquedo”. Eleito em 1959 para a ABL, ocupou a cadeira 21, sucedendo a Olegário Mariano.
Obras:
Degenerada, poesia, 1909
Casa desmoronada, poesia, 1909
Elegia da bruma, poesia, 1910
Legenda da luz e da vida, poesia, 1911
Um sorriso para tudo, prosa, 1915
Lenda das rosas, poesia, 1916
O outro lado da vida, prosa, 1921
A cidade mulher, prosa, 1923
Cocaína, prosa, 1924
A boneca vestida de Arlequim, prosa, 1927
Circo, poesia, 1929
Adão e Eva e outros membros da família, teatro, 1929