—
—
Os óculos da vovó
Dom Marcos Barbosa
—
—
— Como acabar meu tricô,
como assistir à novela,
se esses óculos benditos
me somem sem mais aquela?
—
—
Vovó, procurando os óculos,
vai do quarto para a sala
e de novo volta ao quarto,
sem ninguém para ajudá-la.
—
—
E até parece que os netos
estão a se divertir,
pois mesmo seu predileto
faz força para não rir.
—
—
Deve saber onde estão,
porque lhe diz o malvado:
– Já está ficando quente
seu chicotinho queimado!
—
—
E o diz quando está no quarto
ou à sala torna a voltar.
– Mas como pode uma coisa
em dois lugares estar?
—
—
Em sinal de desespero
leva então as mãos à testa:
ali estão os seus óculos
e tudo vira uma festa.
—
—
—
—
Dom Marcos Barbosa [nome civil: Lauro de Araújo Barbosa] (MG 1915 – RJ, 1997) Sacerdote, monge beneditino,poeta e tradutor. Membro da Academia Brasileira de Letras.
Obras:
Teatro, 1947
Livro do peregrino, XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, 1955
A noite será como o dia: autos de Natal, 1959
O livro da família cristã, 1960,
Poemas do Reino de Deus, 1961
Mãe nossa, que estais no céu, s.d.
Para a noite de Natal: poemas, autos e diálogos, 1963
Para preparar e celebrar a Páscoa: autos, diálogos e fogo cênico, 1964
Eis que vem o Senhor, 1967
O livro de Tobias, 1968
Oratório e vitral de São Cristóvão, 1969
Manifestações de autonomia literária: A Escola Mineira e outros movimentos. In: História da Cultura Brasileira, 2 vols., 1973-76
Um menino nos foi dado, org. de Lúcia Benedetti. In: Teatro infantil, 1974
A arte sacra, 1976
Nossos amigos, os Santos, 1985
Congonhas, Bíblia de cedro e de pedra, e co-autoria com Hugo Leal, 1987
Um encontro com Deus: Teologia para leigos, 1991
As vinte e seis andorinhas, 1991
Poemas para crianças e alguns adultos, 1994






