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Os sapos
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Manuel Bandeira
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Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os delumbra.
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Em ronco que a terra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
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O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado,
Diz: — ” Meu cancioneiro
É bem martelado.
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Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
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O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
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Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
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Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
—
Urra o sapo-boi:
— “Meu pai foi rei” — “Foi!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”
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Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— “A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
—
Ou bem de estatutário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo.”
—
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”
—
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
—
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
—
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
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1918
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Manuel Bandeira (Recife PE, 1884 – Rio de Janeiro RJ, 1968) foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Teve seu primeiro poema publicado aos 8 anos de idade, um soneto em alexandrinos, na primeira página do Correio da Manhã, em 1902, no Rio de Janeiro. Cursou Arquitetura, na Escola Politécnica, e Desenho de Ornato, no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1903 e 1904; precisou abandonar os cursos, no entanto, devido à tuberculose. Nos anos seguintes, passou longos períodos em estações climáticas, no Brasil e na Europa.
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Obras:
Poesia
A cinza das horas, 1917
Carnaval, 1919
O ritmo dissoluto, 1924
Libertinagem, 1930
Estrela da manhã, 1936
Lira dos cinquent’anos, 1940
Belo, belo, 1948
Mafuá do malungo, 1948
Opus 10, 1952
Estrela da tarde, 1960
Estrela da vida inteira, 1966
Prosa
Crônicas da Província do Brasil – Rio de Janeiro, 1936
Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938
Noções de História das Literaturas – Rio de Janeiro, 1940
Autoria das Cartas Chilenas – Rio de Janeiro, 1940
Apresentação da Poesia Brasileira – Rio de Janeiro, 1946
Literatura Hispano-Americana – Rio de Janeiro, 1949
Gonçalves Dias, Biografia – Rio de Janeiro, 1952
Itinerário de Pasárgada – Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954
De Poetas e de Poesia – Rio de Janeiro, 1954
A Flauta de Papel – Rio de Janeiro, 1957
Itinerário de Pasárgada – Livraria São José – Rio de Janeiro, 1957
Andorinha, Andorinha – José Olympio – Rio de Janeiro, 1966
Itinerário de Pasárgada – Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1966
Colóquio Unilateralmente Sentimental – Editora Record – RJ, 1968
Seleta de Prosa – Nova Fronteira – RJ
Berimbau e Outros Poemas – Nova Fronteira – RJ







gosto muito do poema `os sapos` ta muito ghiro
Que bom, Mariana! Ainda bem que está ghiro… Poderia estar girino também… rs… Beijinhos,
gostei muito do poema ” os sapos” é muito engraçado!!!!!!!!!111 KKKKKKKKKKKKKK
Siley, que bom! Volte sempre!
Muito bom, vou ler ele pra minha turma amanhã!
Que bom, eles vão gostar! Parabéns pela escolha!
Muito legal vou ler ele para minha turma, no passeio que vamos fazer.
Evelyn, que bom que você encontrou alguma coisa para ler duranteo passeio. Boa sorte, bom passeio. Obrigada pela notinha,
é uma poesia muito linda pois é mais uma obra facinante de manuel bandeira,muito linda mesmo
Tatiana, parabéns, já vi que você tem muito bom gosto para a poesia, porque essa é, de fato, uma bela criação do nosso poeta Manuel Bandeira. Continue assim, lendo poesias e escolhendo aquelas de que você mais gosta!
adorei,esse poema,e esse sapo parece com o meu tio Fabio…
Bijinhossssssssssssssssssssssssssssssssss…..
Que bom! 🙂
ótima a poesia
Também acho!
adoro as poesia de Manoel Bandeira ,gosto demais mesmo.
🙂
Adoro Manuel Bandeira e principalmente seus poemas
Gosto de ver que você gostou da postagem… 😉
O poema litérario do MANOEL é muito lindo a gente apreende muito mais…
Vivianny, fico feliz de você ter gostado! Você tem bom gosto! 😉
O Manoel Bandeira é um dos poetas literários mais inteligentes do mundo….
Já vi que Manuel Bandeira tem uma grande fã em você, Vivianny. Ele merece! 🙂
Mestra, seu blogue é dos primeiros lugares de toda Internet que o Google indica que listam Os Sapos.
Ficamos a cada dia mais agradecidos por seu generoso compartilhamento das melhores informações culturais.
😀
Surpresos?
😉
Na verdade, já sabíamos. 😎
Isto foi apenas uma estratégia para dizer que, quando fomos postar sobre Os sapos, em
usamos a postagem de blogue. Não é à toa que a chamamos mestra. 😎
🙂 Ando lacônica… um pouquinho atrasada com a preparação das aulas…:(
Você poderia enviar o esquema de rima do poema Os sapos?
Belo poema.Sempre gostei muito de poesias mas o tempo tem me afastado das leituras.
É hora de voltar… elas fazem bem à alma… 😉
Gosteii bastante do poema,é muuito legal… :3
Que bom! Ele era um ótimo poeta! Obrigada pela visita, 🙂
Achei uma obra complexa mais ao mesmo tempo divertida, é muito interessante a forma em que manuel ironiza os parnasianos, que particularmente também acho sem graça, nunca gostei dos poemas parnasianos,pois ele nãos e preocupavam muito com o conteúdo porem admiro a forma brilhante de estruturar um poema. É algo que exige um alto conhecimento as palavras. Enfim amei o poema “Os Sapos” pois é uma forma divertida de trazer uma critica aos parnasianos.
Muito bem dito. Parabéns.
Lindo poema os sapos de Manoel bandeira
Também achei! 😉
Lindo poema, Manoel Bandeira simplesmente arrasou!
E não é? 🙂
Os sapos é poesia linda.
Palavras de antão, de hoje e , quiça, de amanhã esculpem uma escultura de beleza em forma de poesia. Vivas à peregrinacultural.
Obrigada!
gostei muito do poema os sapos #interessante#
É bom sim… 😉
Só lembrando que esse poema foi lido na Semana de Arte Moderna, entre gritos e apupos da platéia. Um escândalo!
Ótima contribuição. Obrigada
É engraçado ver como todos hoje elogiam esse poema e no dia em que foi lido na semana da arte moderna em 1922 esse mesmo poema que hoje é bastante elogiado, naquele dia foi vaiado ! Como as coisas mudam. parece que só dão valor aos artistas depois que morrem !
Tudo muda. Gostos. Estética. Hoje, por exemplo, achamos lindas aquelas estátuas gregas de mármore branco… mas elas eram pintadas, muito coloridas… O tempo apagou a pintura. Nós gostamos delas brancas, alvejantes, ele gostavam delas coloridas. Diferentes eras, diferentes gostos. Obrigada pelo comentário e pela visita, um abraço,
[…] Enfunando os papos, / Saem da penumbra, / Aos pulos, os sapos. / A luz os deslumbra. /// Em ronco que aterra, / Berra o sapo-boi: / – “Meu pai foi à guerra!” / – “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”. /// O sapo-tanoeiro, / Parnasiano aguado, / Diz: – “Meu cancioneiro / É bem martelado. (…)/// (Manoel Bandeira, Os Sapos) […]