Lembrando a ama de leite no dia das mães

8 05 2009

Ama de Leite, ilustração Ivan Wasth Rodrigues para Casa Grande e Senzala em Quadrinhos

Ama de leite, ilustração de Ivan Wasth Rodrigues (Brasil 1927-2008), para Casa Grande e Senzala em quadrinhos.

 

Ricordanza della mia gioventú

 

                                                              Augusto dos Anjos

 

A minha ama-de-leite Guilhermina

Furtava as moedas que o Doutor me dava.

Sinhá-Mocinha, minha mãe, ralhava…

Via naquilo a minha própria ruína!

 

Minha ama, então, hipócrita, afetava

Susceptibilidades de menina:

” — Não, não fora ela –” E maldizia a sina,

Que ela absolutamente não furtava.

 

Vejo, entretanto, agora, em minha cama,

Que a mim somente cabe o furto feito…

Tu só furtaste a moeda, o oiro que brilha…

 

Furtaste a moeda só, mas eu, minha ama,

Eu furtei mais, porque furtei o peito

Que dava leite para tua filha!

 

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (PB, 1884 — MG, 1914) foi um advogado e poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Mas muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, concordam em situá-lo como pré-moderno.  É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.


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2 responses

15 08 2011
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Dia das Mães

Mãe! Eu volto a te ver na antiga sala
Onde uma noite te deixei sem fala
Dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
Porque a sina das mães é esta sina:
Amar, cuidar, criar, depois… Perder.

Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
Já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
Sorrindo, o rouba; e a velha mãe aflita
Ainda se volta para abençoá-la.

Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
Fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
Olhando o leito que eu deixei vazio,
Cantando uma cantiga de ninar.

Hoje volto coberto de poeira
E te encontro quietinha na cadeira,
A cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
Não sinto que me caiba este direito.

O direito de dar-te este desgosto,
De te mostrar nas rugas do meu rosto
Toda miséria que me aconteceu.
E quando vires a expressão horrível
Da minha máscara irreconhecível,
Minha voz rouca murmurar: “Sou eu!”.

Eu bebi na taberna dos cretinos,
Eu brandi o punhal dos assassinos,
Eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
Eu fui vilão em todas as tragédias,
Eu fui covarde em todas as batalhas.

Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
E só agora, quando chego ao fim,
Traído pela última esperança,
E só agora quando a dor me alcança
Lembro quem nunca se esqueceu de mim.

Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
A cadeira rangeu, é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
E, me envolvendo num milhão de abraços,
Rendendo graças, diz: “Meu filho!”, e chora.
E chora e treme como fala e ri,
E parece que Deus entrou aqui,
Em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
Quase é como se o céu me perdoasse,
Me limpasse de todos os pecados.

Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
Que eu compreendo o que significa:
O filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!

Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
Mas que me beija como agradecendo
Toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
Mas tu me olhas num olhar tão doce
Que, nada tendo, não te falta nada.

Dia das Mães! É o dia da bondade
Maior que todo o mal da humanidade
Purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um ser mesquinho,
Enquanto a Mãe cantar junto a um berçinho
Cantará a esperança para o mundo!

oi Ladyce! Prá sua seleção mais um lindo poema de Guiaroni. Nunca deixo de ver seu site, abs

15 08 2011
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom, ter notícias suas, Altair. Muito obrigada pela contribuição! Um abraço, Ladyce

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