
O Arquiduque Leopold Wilhelm na sua galeria de quadros em Bruxelas, 1651
David Teniers ( Países Baixos, 1610-1690)
Óleo sobre tela, 127 x 162 cm
Petworth House
Hoje cedo dei uma lida rápida num artigo do New York Times, em que Holland Cotter explica que os maiores e melhores museus dos EUA passam no momento por dificuldades em continuar abertos. Já que não haverá auxilio do governo para seus problemas financeiros. O Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles por exemplo já acabou não só com todo o dinheiro que tinha investido como precisou recorrer ao apoio de um dos patronos do museu, o bilionário e colecionador, Eli Broad.
Para a maioria dos museus esta é a hora de agir. Eles não podem ficar passivos principalmente quando suas economias estão desaparecendo; quando seus patronos perdem muitos investimentos. Numa época de incerteza financeira as pessoas responsáveis como patronos esquecem dos museus. Essas instituições precisam então fazer alguma coisa ou fecham.
Já há algum tempo muitos dos museus americanos andam afrouxando suas regras; modificando os modelos de templos da arte, tornando-se mais populares. Trocam os antigos modelos por um que está cada vez mais popular: o “museu dos cidadãos”. Esse museu tem acima de tudo uma atmosfera mais fluida, mais informal e certamente mais popular em gosto e em acervo.
Essa reformulação em geral passa por uma re-organização das coleções permanentes. O Instituto de Artes de Detroit, por exemplo, trouxe para frente do seu imponente edifício a belíssima coleção de arte africana de seu acervo permanente, que hoje serve como sala de apresentação do museu.
Outra parte da reformulação é a popularização dos gostos e dos objetos a serem mostrados. Exemplos das diferentes exposições, definitivamente mais populares nos museus:
1. O Museu do Brooklin já teve duas exposições bem mais populares que atraíram um bocado da população mais jovem e com menos cultura artística: objetos comerciais do hip-hop e outra exposição da parafernália de Star Wars.
2. A Guggenheim por sua vez, teve a exposição da “ extravaganza de
motorcicletas”.
Não tenho nada contra esforços para a popularização dos museus. Por exemplo, acredito que para incentivar a leitura devemos dar todo apoio a quem queira ler mesmo que seja uma obra comercial. O mesmo é claro acredito que possa ser aplicado aos museus. Mas é preciso vermos se realmente cabe este grande número de museus ou se não estamos hoje em dia com uma tendência de tratarmos museus como pontos turísticos e assim sempre bem-vindos pelos governos municipais em qualquer lugar no mundo.
Penso principalmente num absurdo carioca: toda casa com mais de 50 anos, num bairro populoso, passa a ser “tombada” depois de uma grita em geral que quem mora próximo e vai perder “ a vista” de seu apartamento se mais um edifício fosse construído no local. Então temos mais uma casa que se transforma em centro cultural, como se esse fosse o único fim possível para alguma construção de dois ou três pavimentos. Francamente, mesmo que se ainda fôssemos o centro cultural do Brasil, o que deixamos de ser há algum tempo, não teríamos cultura suficiente para enchermos significativamente todas as casas hoje transformadas em centros culturais. O resultado é um nível muito baixo do que é apresentado lá, quando há alguma coisa apresentada. Uma pena.
A popularização de uma instituição como um museu ou um centro cultural não é ruim desde que sirva de apresentação e que atraia, como um ímã, um público que se sente curioso o suficiente para ir ver, procurar e se instruir no que há de mais sério e mais complexo, nas outras exposições…





Hoje cedo li demoradamente o artigo de Holland Cotter que “aparentemente” se posiciona a favor da arte. Não me ficou claro sua posição. A priori me entusiasmei com seu ponto de vista quando retira a auréola dos artistas e principalmente dos hostes que conseguiram deturpar a ideia de Duchamp, ou seja, ignoraram a contextualização do artista e simplesmente a deturparam, moldando-a, conforme o interesse do jeito americano e a transformaram em mercadoria para os novos ricos que não tinham onde mais gastar sua nova fortuna.
Antes de comungar com sua ideia, cabe saber sua posição do que pensa sobre arte e o que é arte e principalmente quem faz arte.
Creio que não precisa ser necessário um crítico de arte, um marchand, teórico, curador ou artista para antever que alguma coisa estava errada. Muito errada. Quando se transforma animal morto conservado em formol com pata revestida em ouro em obra de arte, ou se prende um cachorro dentro de uma galeria, privado de se alimentar ou ser alimentado, a imbecilidade prevalece. Já não se torna necessário amarrar uma melancia no pescoço.
Absurdamente, como sou do interior, onde tentamos proteger nossas memórias, nosso passado sou obrigado a ouvir( eu li, mas ouvi) como se fosse uma bomba de ignorância, o comentário acima em que o cidadão acha normal destruir uma casa (história) de 50 anos, acredito que não seja de seu pai nem de seu avô, pois certamente defenderia o seu tombamento. Que centro cultural ele(a) fala, que acha que é. Que eu saiba, se houve, existe ou existiu centro cultural no Brasil foi em São Paulo, vindo da Europa por sinal.
Absurdamente sou do interior de Minas Gerais, mais precisamente de Araguari. Temos obras plásticas e de artesanato, na cidade e região que encheriam as casas do seu bairro. Mas não precisa, toda capital é rodeada de interior e por aí com certeza é também são muito ricas. A cultura não reside na capital, nem a imbecilidade. Tomara que esteja falando sozinho(a).
Nada de dar obra comercial ao povo, esmola basta em dinheiro. Direitos iguais, princípio básico da constituição.
Graças a suas ideias, formas de cultura são impostas. Não seja ambiguo (a),se posicione, as exposições são mais sérias,quais????
Uai…
Prezado Senhor Luciano Mendonça,
Agradeço a leitura do meu blog. E venho aqui deixar ainda mais claras as idéias que postei e que parecem lhe afligir.
Idade por si só, quer num livro, quer numa pintura ou num prédio, não é razão para que se tombe ou para que se preserve o objeto. É preciso que haja valor cultural. Casas, mobiliários e demais expressões culturais de um povo precisam ser relevantes para a história daquele povo para serem preservadas, sem que se possa modificar o plano original.
O senhor diz ser de Araguari, MG. Procurando na internet cheguei a ver que há diversos prédios, tombados em Araguari, que ao que parecem são de valor histórico e cultural nacionais e locais. Isso é um ótimo sinal.
A situação carioca, no entanto, está um pouco diferente. Temos também muitos prédios tombados. A história carioca acompanha a história do Brasil através últimos cinco séculos. Tentamos dar uma cobertura desta história com o tombamento e preservação dos imóveis que interessam. No entanto, há hoje em dia, uma espécie de tombamento que não melhora necessariamente a qualidade quer cultural quer de vida dos habitantes da cidade.
Quando, nos anos 50 do século passado, o Rio de Janeiro tinha uma população de aproximadamente 2.500.000 de pessoas, havia muitos bairros residenciais, em lugares nobres da cidade, principalmente aqueles próximos às praias, às lagoas da zona sul, onde a classe média alta da cidade encontrava abrigo.
Com o crescimento populacional da cidade, hoje com 10.500.000 de habitantes, muitas dessas casas foram derrubadas para dar lugar a edifícios de apartamentos. Eles abrigam um maior número de famílias da mesma classe media alta. Com isso, as poucas casas que permaneceram como residências até hoje. E dependendo da localização e dos estatutos imobiliários estes prédios são ou muito procurados para a construção de mais um edifício que abrigará outras tantas famílias, ou passa a ser considerada uma casa tombada. O tombamento deste tipo de residência é contrário a todos os preceitos de preservação, porque em geral, não são necessariamente os melhores exemplos de uma arquitetura tal, ou os mais puros prédios do estilo X. Estes tombamentos ocorrem para que se mantenha a vista de um prédio já existente; para que não haja uma parede de concreto de ponta a ponta de um canto da rua ao outro.
Assim sendo, nem as famílias que mantiveram estas casas em seu poder até hoje, podem na verdade desfrutar do patrimônio que lhes foi legado pelos seus antepassados. Porque uma vez tombados, estes prédios têm suas funções limitadas.
Deixe-me lhe dar um exemplo concreto. Uma casa à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, pode não ter um terreno com área suficiente para que haja uma construção de um edifício de apartamentos, — o que seria considerado o melhor e mais produtivo uso da terra. Isso, porque hoje em dia as regras para se construir no local especificam com grande detalhe a distância a que o novo edifício precisa ficar de seus vizinhos, assim como também limitam o número de andares possíveis no local. Ou seja, o município e as regiões administrativas dos bairros têm regras para o melhor aproveitamento da comunidade como um todo e não somente para os donos do imóvel.
Pois bem, com uma casa tombada, a família se vê com suas possibilidades financeiras cerceadas, e aquele bem que o seu avô ou bisavô lhe deixou e que seus pais sofreram tanto para pagar os impostos anuais do imóvel, não será de grande valia. Por quê? Porque, se não podemos construir um edifício e o imóvel é tombado, também não podemos fazer reformas no exterior e muitas vezes no interior da construção. Mas, esses imóveis necessitam de reformas. Só as necessidades de energia elétrica para a simples sobrevivência nos dias de hoje são muito diferentes daquelas dos anos 50. Nossos lares têm que ter circuitos trifásicos para comportarem todos eletrodomésticos. Nossas casas precisam de dezenas de tomadas elétricas para suportarem os computadores, os refrigeradores, os freezers, etc que fazem parte da vida diária destes habitantes. O que fazer? Como fazer?
Vou lhe dar um exemplo pessoal. Moro em Copacabana. Num prédio construído em 1930 no auge da arquitetura Art Deco. Não posso ter uma segunda linha de telefone no meu apartamento. Por quê? Porque quando foi construído não só havia poucos telefones, como a fiação era diferente. Hoje os fios são mais grossos, precisam de um tubo muito mais largo para correrem por dentro das paredes de concreto do edifício. Assim, hoje — que a fiação traz com ela a potencialidade de acesso a internet, à TV a cabo, além de outras atividades — quem mora onde eu moro tem que fazer sacrifícios. Se não mudarmos as restrições quanto às reformas, o edifício em que moro, tombado, — todos os dez andares dele — estarão dentro em pouco desocupados ou abandonados, porque não se pode mais viver com os padrões do passado. Tenho certeza que haverá um esvaziamento deste local dentro em breve e os donos dos imóveis perderão grande parte de seu investimento inicial. É assim, por este motivo, que os centros de cidades grandes acabam sendo esvaziados e pessoas invadem prédios que são lindíssimos por fora e uma porcaria por dentro.
Hoje, no centro da cidade do Rio de Janeiro, há dezenas de edifícios cujas paredes se desmoronam com qualquer chuva mais forte. Estão abandonados, porque foram tombados. E nem os donos, nem a cidade ou o estado sabe o que fazer com a construção. O desalinho está em toda a parte. A aparência de abandono também. E ao se espalhar traz cada vez mais a sensação de insegurança nas ruas da cidade porque a mensagem é clara: ninguém se importa. Ao contrário do que foi feito na Europa — e registro por conhecimento próprio onde na Espanha e em Portugal edifícios tombados podem ser remodelados por dentro, temos no Rio de Janeiro alguns prédios que sendo verdadeiras jóias de uma arquitetura internacional não podem ser remodelados por dentro, para abrigar escritórios modernos, mesmo que suas fachadas sejam mantidas, por causa das limitações das leis de tombamento. Então, meu caro senhor, temos o abandono total dos imóveis até que desmoronados a prefeitura se digne a liberar o terreno para outro uso.
Nos bairros residenciais, mais nobres, há, é claro, a solução a que me referi, a solução universal para as casas como a da Lagoa Rodrigo de Freitas que mencionei acima: transformá-las num centro cultural. Por quê? Porque artista não precisa de muita coisa e dá um jeitinho. Vive de um sonho. Só num perímetro de 6 km quadrados que preenchem os bairros de Ipanema e Leblon no Rio de Janeiro há 9 centros culturais, baseados em casas de valor quase zero arquitetonicamente falando, mas em ótimas ruas. Para não serem usadas por pessoas sem teto, levam o nome de centro cultural, apresentam programas mal financiados, exposições de quinta categoria e assim por diante.
Mantenho que não há cultura suficiente no Rio de Janeiro e alhures, que possa vir a preencher as áreas sem cuidado; vazias de objetivo e ocas de cultura no Rio de Janeiro. Este é um problema muito “quente”, mas acredito que mais valha salvarmos poucos exemplos do que é realmente precioso e atentarmos com orçamentos justos a manutenção destes prédios, do que salpicar a cidade com centros culturais e outras proteções sem sentido, que não levarão a nada, pois não há dinheiro para mantê-las, não há pessoal para administrá-las, não há interesse do público em freqüentá-las. É tudo só, exclusivamente aparência. É tudo só de valor para a campanha eleitoral. Aparência de que nos preocupamos com a cultura, aparência de que durante o “nosso governo o Rio de Janeiro dobrou o numero de centros culturais.” Fico feliz de saber que em Araguari isto não aconteceria. Mas aqui é diferente.