“Lundu de Dona Sinhá”, Wilson W. Rodrigues

24 11 2020

Batucada, 1935

Armando Vianna (Brasil, 1897 – 1992)

óleo sobre tela, 37 x 46 cm

 

Lundu de Dona Sinhá

 

Wilson W. Rodrigues

 

Tanta brancura na pele,

tanta negrura nos olhos,

tanta risada sonora

no mundo não há

fora do colo macio,

dos olhos tão envolventes,

da boquinha tão vermelha

de dona Sinhá.

 

Pegar com jeito no leque,

fazer mesura na valsa,

dizer adeus com o lenço

no mundo não há

como o jeito delicado,

o sapatinho de seda,

a mãozinha tão alva

de dona Sinhá.

 

Rezar, na igreja, sonhando,

dizer “não”, sempre sorrindo,

prometer tanto em silêncio

no mundo não há

como a reza mais sincera,

os lábios enganadores

e as promessas escondidas

de dona Sinhá.

 

Fingir chilique de choro,

zombar do próprio marido

e trair o próprio amante

no mundo não há

como as lágrimas fingidas,

os carinhos mentirosos

e os amores levianos

de dona Sinhá.

 

Em: Bahia Flor: poemas, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro, Editora Publicitan: 1949, pp. 51-55

 

 

Wilson Woodrow Rodrigues (São Salvador, BA, 1916 – ?), poeta, jornalista, folcorista, escritor, professor.

Obras

    A caveirinha do preá, s/d

    Desnovelando, s/d

    O galo da campina,s/d

    O pintainho, s/d

    Por que a onça ficou pintada, s/d

    A rãzinha,s/d

    Três potes, s/d

    O bicho-folha,s/d

    A carapuça vermelha,s/d

    Bahia flor, poesia, (1949)

    Folclore Coreográfico do Brasil, (1953)

    Contos, s/d

    Contos do Rei-sol, s/d

    Contos dos caminhos, s/d

    Pai João, (1952)

    Sombra de Deus, s/d

    Lendas do Brasil, s/d





Balaio, poema de Wilson W. Rodrigues

24 08 2020

Homem com cavalos

Georgina de Albuquerque (Brasil, 1885 – 1962)

óleo sobre  tela, 32 x 40 cm

 

 
Balaio

 

Wilson W. Rodrigues

 

 

Deixa o meu balaio velho

que guardei como lembrança

do tempo em que no balaio

levava muita esperança…

 

Eu mesmo fiz o balaio,

entrancei-o em sua trança,

cantando as minhas cantigas

que aprendi quando criança.

 

Com o balaio nas costas,

tive tanta ilusão mansa,

pensei até que amaria

a filha do rei de França.

 

Com tanta coisa sonhei!

Tudo se foi sem tardança…

Só meu balaio ficou

com minha desesperança.

 

Em: Bahia Flor: poemas, Wilson W. Rodrigues, Rio de Janeiro, Editora Publicitan: 1949.p. 55.