Mangueiras de Belém, poesia de Raul Braga

19 04 2023

 

 

Largo_de_Nazareth.Joseph Léon Righini (Turim, Itália ca.1820 - Belém PA 1884).

Largo_de_Nazareth, Belém, Pará

Joseph Léon Righini  ( Itália – Brasil, 1820 -1884)

gravura

 

Mangueira de Belém

 

Raul Braga

 

Filha de terra estranha bem distante,

Transplantada a terras brasileiras,

Aqui enfeitas, verde e galante

Na beleza de todas as mangueiras.

 

Dás folha e sombra e flor alvissareiras

De uma quadra de vida confortante,

És pouso e lar das aves cantadeiras,

pela tardinha em último descante.

 

Mas, a maldade humana, sem limite,

Ao lenhador vai dando em apetites

Uma insânia de morte carniceira,

 

Até quando não mais existe um ninho

E, derradeiro, partir o passarinho,

Quando abatida a última mangueira.

 

Em: A lira na minha terra: poetas antigos e contemporâneos no Pará, Clóvis Meira, Belém: 1993, p. 333





Dona Felicidade, poesia de Raul Braga

29 09 2020

 

 

Gildásio Jardim Barbosa- do vale do Jequitinhonha - MG. Trabalho de pintura sobre tecidos estampados em tela. Que faz fusão dos personagens com as estampas -2Moça lendo na rede

Gildásio Jardim Barbosa (Brasil, contemporâneo)

[Vale do Jequitinhonha – MG]

pintura sobre tecidos estampados em tela.

 

Dona Felicidade

 

Raul Braga

 

Quão inconstante és tu, felicidade,

Irrefletida em não poder mais ser

Que a gente fica em tal ansiedade,

Com medo de perder-te, ou de não ter.

 

E vai a vida, assim em desprezar,

Gastos nos dias bons da mocidade,

Sem que nos venha nesse amanhecer

Um vislumbre, sequer, de claridade.

 

Insensato sou eu, quanto insensato,

Em querer esboçar uma quimera

Quando bem fácil eu tenho o teu retrato

Felicidade, em tudo és bem mulher:

 

— Tu vens chegando, quando não se espera,

E vais embora, quando não se quer.

 

Em: A lira na minha terra: poetas antigos e contemporâneos no Pará, Clóvis Meira, Belém: 1993, p. 332-3