Da minha mesa de trabalho

5 09 2016

 

 

DSC01409Nesta semana: mini crisântemos tingidos de vermelho.

 

 

Promover a leitura entre adultos e adolescentes é um dos meus objetivos há anos.  Saber que muitos adolescentes saem da escola sem conseguir interpretar o que leem é chocante.  E uma vergonha.  Isso me levou a pensar num programa de leitura dedicado ao problema. Está em fase de construção.  No momento coleto informações sobre projetos, fora da escola formal, que tenham tido bons resultados na educação de menores.  Quero aprender com eles.

Na semana que passou visitei um dos mais bem sucedidos projetos de recuperação educacional do Brasil, que serve de modelo para organizações fora do Brasil: Projeto Uerê.

Foi uma visita impactante.  Emocionante para qualquer um de nós que preza a educação.  Localizado na Comunidade da Maré no Rio de Janeiro, o projeto recupera um pouco mais de 400 crianças que se encontram em situação de risco. É uma instituição de ensino alternativo. E as crianças participam até os quinze anos de idade.  Essa escola alternativa usa o método educacional desenvolvido por Yvonne Bezerra de Mello, chamado Uerê-Mello.

Quando entram, as crianças pequenas ainda, já demonstram sequelas causadas pela pobreza, violência familiar, abandono e uma miríade de outros problemas que as colocam em risco. A memória é afetada e com isso o aprendizado formal deixa de fazer o seu papel.

Visitei a escola toda.  As salas de aula das crianças pequenas me surpreenderam com seus jogos de matemática, com o aprendizado em diversas línguas [vi números serem contados em português, inglês, francês, alemão e ioruba], com o conhecimento de geografia e do noticiário do mundo.

Passei um bom tempo também com os adolescentes de 14 anos que fazem parte da orquestra de câmara do Uerê (cordas). Alguns deles vocês podem ver aqui abaixo. São rapazes educados,  gentis, inteligentes e como todos os jovens brincalhões.

Vim para casa renovada e determinada a estabelecer o projeto de leitura para adolescentes. O Projeto Uerê me deixou confiante num Brasil melhor.

 

Cláudio Cardoso6No violoncelo, o cellista Cláudio Cardoso.

 

Erik Lima2No violino, Erik Lima.

 

Luís Felipe Andrade3Violinista Luís Felipe Andrade.

 

Paulo Henrique Conceição2Paulo Henrique Conceição violinista.

 

Luís Eduardo HonoratoMembro da orquestra de cordas, Luís Eduardo Honorato.
Luan Vítor França1Violinista Luan Vítor França.

 

DSC01384Jamming: o immproviso com música popular.

projeto uerê1www.projetouere.org.br

Salvar





Da minha mesa de trabalho

29 08 2016

 

 

DSC01323Minha mesa de trabalho, semana 28.08.2016 — margaridas singelas.

 

 

O ponto alto do meu fim de semana foi um casamento. Um casamento diferente. O casal em questão já estava casado no civil há 21 anos.  Na época a situação financeira não permitia nada além do cartório. Mas ficou a vontade da cerimônia religiosa.  Apesar do convívio diário por décadas, os noivos estavam emotivos.  Era uma reafirmação de seus votos, dessa vez perante uma autoridade maior.  A filhota de 18 anos entrou com um dos tios, irmão da noiva: padrinhos. Sua irmã, onze anos mais nova, cobriu a passadeira até o altar com pétalas de rosas vermelhas e brancas.  Duas princesas orgulhosas por seus papeis na vida familiar. A cerimônia transcorreu como qualquer outro casamento, mas o aplauso da plateia de parentes, amigos e vizinhos foi emocional após os votos de fidelidade enunciados e jocosa quando o padre permitiu o beijo nupcial. O clima na igreja,no entanto, foi diferente daquele a que estamos acostumados nos casamentos jovens, de primeira viagem. Não havia aquela tensão dos familiares de um lado ou de outro que se desconhecem. Não havia a esperança de que os noivos pudessem levar o comprometimento por alguns anos.  Como numa cerimônia de bodas de prata todos ali já se conheciam, já tinham se tornado família e amigos do casal, já formavam a unidade familiar que inclui os dois lados, todos se conheciam e conseguiam brincar uns com os outros. O que diferenciou este casamento de outros foi a realização de um sonho de muitos anos, adiado, postergado, frustrado, malogrado pelo sobreviver, pelo trabalho, pelas doenças dos pais, escola para os filhos, pelo bem-estar do núcleo familiar. Por isso o júbilo, a alegria ebuliente, que contagiou a todos.   A festa foi modesta pelos padrões de hoje, mas a alegria e o bom convívio foram genuínos. Estão de parabéns os noivos e suas duas filhas.

Voltei para casa feliz e só na manhã seguinte, refleti  sobre minha reação ao evento.  Por que achei a realização de um sonho acalentado através das intempéries naturais da sobrevivência tão emocionante?  Inusitado mesmo. Por que me emocionei com a realização de um sonho tão pessoal de outra pessoa? Por que achei os votos trocados neste altar mais sérios do que os de outros casamentos que testemunhei?  Havia ali verdadeiro comprometimento e honestidade. Pensei na grandiosidade dos casamentos de hoje, verdadeiros eventos de multidões de convidados, bufês e música até a manhã seguinte. Haveria com isso uma banalização do compromisso que perde a berlinda no meio de tantas distrações?  Ou talvez seja porque acho cada vez mais difícil encontrar aqueles que genuinamente se dedicam aos compromissos que têm com os outros e consigo mesmos. Será?

Salvar

Salvar

Salvar