Ritual que se foi…

20 06 2025

Domingo passado estive numa festa de aniversário de duas amigas: mãe e filha. A mãe completava oitenta anos e a filha marcava os cinquenta. Foi uma bonita comemoração: família e amigos reunidos numa sessão dupla de felicidade. Na saída, os convidados receberam uma mini licoreira com o licor italiano à base de avelãs, Fra Angélico, favorito da aniversariante mais velha. A garrafinha veio protegida por um saquinho de organza com cartão marcando as datas das aniversariantes e a frase: A vida é um eterno recomeço. No dia seguinte à noitinha, me preparei para degustar o licor, rememorando aquele momento. A bebida me acompanhou na leitura de A vida secreta das árvores de Peter Wholleben. Essa noite tornou-se especial, fiz duas coisas deliciosas: ler e degustar o licor; Um momento em que me voltei para o passado sobre licores, seus usos e como, no presente, licores praticamente desapareceram de minha vida.

Memórias me levaram à casa de meus avós maternos. Naquele Rio de Janeiro era mais comum as pessoas receberem amigos em casa. Não necessariamente durante o final de semana, nem estou falando de grandes festas. Mas visitas durante a semana, à noite, depois do jantar, quando a mesa já havia sido retirada, e sobrava tempo para minha avó se sentar com o jornal da manhã, lápis em punho, para completar suas palavras cruzadas. Era o sinal para meu avô se esconder no escritório, uma sala não muito grande, coberta por estantes de livros, encapados com papel pardo, etiquetados e enfileirados em prateleiras protegidas por portas de vidro de correr. Minhas memórias desse escritório, ficaram para sempre marcadas pelo perfume de tabaco. Lá, era onde meu avô dava uma cachimbada noturna, impregnando o ar com o perfume doce, delicioso, do fumo, que era guardado solto em um pote de vidro hermético, difícil de abrir, mantido ao lado do umidor onde ele que guardava charutos para ocasiões especiais.

Eram noites comuns. Nada de especial: não eram aniversários, nem ocasiões extraordinárias. Mas de quando em quando, meus avós recebiam uma ou outra visita na semana. Os visitantes chegavam por volta das vinte horas, depois do jantar, vestidos no que hoje acharíamos trajes muito formais. Homens na maior parte do tempo sozinhos para conversar com vovô. Vinham de terno e gravata. Se trouxessem suas esposas, elas também vinham vestidas de modo igualmente formal, perfumadas, com bolsas dependuradas no antebraço. Essas eram as roupas que se usava para sair e visitar amigos. Mas ao contrário do que se possa imaginar, elas não faziam as conversas mais formais. Não. Eram conversas entre amigos, falavam de coisas comuns. Riam-se. Falavam de política, do governo, do trabalho. Brincavam entre si, e comigo, a neta mais velha da família e sabiam meu nome direitinho, ainda que eu não participasse dos encontros, sentada com um livrinho de colorir, ou até mesmo um gibi num canto caladinha, sem que me atrevesse a conversar sem ser chamada.

Natureza morta com licor Bénédictine, garrafas e taças, 1919

George Mosson (França-Alemanha, 1851-1933)

 óleo sobre tela, 55 x 63 cm 

 

 

Nessas ocasiões os amigos de meus avós eram direcionados ao jardim de inverno, uma grande varanda, fechada com janelas de vidro, repleta de plantas tropicais altas e mobiliário vindo de São Paulo de madeira teca, resquícios de sua longa estadia a trabalho naquele estado.  Na varanda, havia uma mesa pequena para duas pessoas em um canto onde os homens se sentavam, frente a frente, onde vovô, em outras ocasiões, também jogava damas comigo e vovó, para não ficar para trás, me ensinou a jogar Burro e Memória, com o baralho. As senhoras, quando vinham, se sentavam em poltronas também de madeira com almofadões de flores diversas.  Vovó trazia uma bandeja com copinhos para licor, que nada mais são do que taças de vinho liliputianos. Junto, vinham duas ou três garrafas de licores diversos, europeus. Servia cafezinho também, acompanhado de açucareiro e pequeninas colherinhas de prata. Não havia preocupação com açúcar, nem havia, que eu saiba, adoçantes industrializados. Essas bebidas eram o bastante para a conversa rolar por algum tempo.  Quando o som do relógio carrilhão da sala adjacente batia dez da noite, naquela longa melodia inglesa do Big Ben, as visitas ou já haviam saído ou estavam no final das despedidas, prometendo verem-se de novo em breve.

Vovô era de Mato Grosso, estado que ainda não havia sido dividido em dois. Aqui no Rio de Janeiro, existia uma verdadeira colônia de mato-grossenses alguns remanescentes da ditadura de Vargas, que havia recebido apoio de pessoas influentes daquele estado, principalmente na campanha de Getúlio para o desenvolvimento da região centro-oeste, conhecida como ‘Marcha para o Oeste’.  Outros, como meu avô, mandados pelas famílias para estudarem no Rio de Janeiro, que simplesmente permaneceram na capital do país, casados com cariocas, trabalhando por conta própria, na indústria ou empregados do governo. Desterrados, procuravam o consolo do sotaque típico da região e referências às famílias conhecidas que representavam. Quando vovô recebia amigos de lá, o esquema era o mesmo, mas os licores servidos eram diferentes: as frutas reinavam, ainda que eu me lembre de uma bebida de folha de figueira, mas serviam licor de pequi, banana e outro, cujo nome me causava acessos de riso desenfreado: furrundu.  Até hoje tenho um sorriso indomável quando me recordo dessa bebida.  O licor de pequi era meu grande conhecido, porque na prateleira mais baixa da cristaleira de vovó, onde ficavam as garrafas de licores, refletidas no espelho ao fundo do móvel, a garrafa de pequi brilhava como nenhuma outra com seu líquido dourado e a mágica da fruta inteira lá dentro.

 

 

Taça de licor, laranja, par de dados

Daniel Montoya Neiderbach (Espanha, contemporâneo)

óleo sobre placa, 31 x 23 cm

 

 

A bebida também foi consumida quando visitas chegavam na casa de meus pais.  Depois que meus avós morreram, lembro que não se precisava mais de visitas formais para os licores virem ajudar a comemorar a ocasião.  A formalidade na cidade já estava se dissipando.  Mamãe e minhas tias serviam licores às amigas, às irmãs, quando jogavam cartas à tarde ou se reuniam numa tarde de aniversário.  A bebida muitas vezes era acompanhada de algum bombom requintado, mais frequente, no entanto, de uma torta de chocolate, nozes ou bolo de amendoim. Durante o final dos anos setenta e a década de oitenta  passada era comum quem viesse de viagem internacional, trazer de presente uma garrafa de licor para um membro da família ou um amigo: Fra Angelico, Cointreau, Baileys entre outros. Não consigo precisar uma data quando na minha família perdeu-se esse hábito.  Talvez a idade da geração de meus pais,  talvez preocupações com saúde, ou até mesmo altos e baixos econômicos do país possam ter contribuído para isso.  Visitas à noite, no meio da semana também rarearam, aconteciam principalmente entre membros da família, meu pai visitando seu irmão, meus tios vindo para um abraço rápido de congratulações pelo aniversário de alguém. Aos poucos perdeu-se o ritual do licor como gesto de boas-vindas. 

Tudo mudou nos últimos quarenta anos. Às vezes precisamos de um gole de licor de amêndoas  para considerar as mudanças sociais por que passamos.  Devo à minha amiga Rose, e a comemoração de seus oitenta anos, essa pausa para reflexão e viagem pelas memórias de infância. 

©Ladyce West, Rio de Janeiro, junho 2025.





Manhãs de Coimbra

15 03 2025
Coimbra vista do Mondego.

 

 

Ontem a cerração na praia de Copacabana estava densa.  Pouco depois das seis da manhã, não se podia ver nem os sinais de trânsito no meio das pistas quase desertas de carros. Difícil atravessar o asfalto para chegar à calçada junto à areia. Não é muito comum esse tipo de neblina espessa adentrando o calçadão.  Muitas vezes vemos névoa deitada em alto-mar, embaçando o horizonte. Não fica por muito tempo. Logo o sol tropical parece expulsar toda umidade dessas nuvens baixinhas. Mas cobrindo parte da areia, antes do quebra-mar, é incomum. Minha caminhada foi acompanhada pelo som dos longos apitos de embarcações invisíveis, escondidas pelo ruço da manhã, ao saírem da baía de Guanabara em direção sul.  Justamente próximo ao Forte de Copacabana, onde começo minha caminhada diária, os navios aumentavam a frequência e a duração dos apitos.  Esse melancólico som que, para os que moram próximo à praia, é familiar, pareceu mais solitário. Ouvir tão perto o lamento de  naves fantasmas deu ao início da manhã um ar nostálgico.  E os atletas, que se exercitavam na areia ao sol nascer, tornaram-se seres ilusórios, fantasmas de si mesmos a menos de dez metros de distância.  Já não se sabia quem eram. Tudo parecia irreal nessa manhã.

Sou parcial a neblinas. Gosto dessas cortinas de nuvens que insistem em nos rodear em alguns lugares.  Hoje, quando voltei para casa lembrei-me de Coimbra, e dos dois anos em que lá morei. Uma das memórias encantadoras que tenho da cidade são suas manhãs nebulosas. Morávamos próximo à Praça da República, numa ladeira que desembocava na rua Almeida Garrett.  O que não é ladeira nessa cidade? Não fosse pelas casas à frente de nossa janela, de onde, empoleirados no lado mais alto da subida, víamos as telhas vermelhas de seus telhados e mais adiante os telhados de outras construções, talvez tivéssemos podido observar, ainda que de longe, a série de edifícios de dois e três andares que perfilam, unidos uns aos outros, em sentinela, um dos lados da praça.  Como se estivéssemos numa plataforma, numa vigia de viúva, essa peça arquitetônica das casas à beira-mar no nordeste dos Estados Unidos, podíamos ver à nossa frente um vasto horizonte, um mar de telhados, algumas copas de árvores em descida íngreme e ao fundo, elevando-se solitária, a colina central da cidade, em cujo topo, parcialmente descobertas, como se tímidas fossem, reinavam as construções centenárias dos prédios da universidade e a torre do relógio.

No entanto, essa vista esplendorosa de nossa janela só podia ser apreciada, na maioria dos dias do ano, depois das dez da manhã.  Porque antes disso, densa neblina se acomodava à noite,  aninhada por entre os altos e baixos da cidade, entrando pelos jardins, tomando as bordas urbanas, fazendo moradia nos ermos da cidade.  Não podíamos ver nada além de uma barreira branca acinzentada, algodão doce gigantesco, que insistia em se dissipar lentamente, sugado aos poucos pelos raios de sol matinais. Por causa dessa névoa espessa, cobertor orvalhado, que penetrava cada esquina, beco, ruela pitoresca, tínhamos a impressão de que os primeiros sons da manhã também se sobressaíam, assim como no meu passeio na praia de Copacabana ouvi, com mais atenção, o lamento dos apitos dos navios em alto mar.  Em Coimbra, na nossa rua, percebíamos da janela do quarto, com a cidade ainda em silêncio às oito horas da manhã, os passos de pedestres ressoando alto no asfalto; pareciam passar por dentro de nossa habitação. Os numerosos gatos de rua, miavam com mais sofrer, esperando pelo sol.  Queriam voltar a esquentar-se encarapitados nos lugares mais altos dos telhados. Alimentados por moradores atenciosos, esses bichanos quase selvagens, ocupavam também a esquina à nossa frente, passando horas e horas no calorzinho aconchegante das telhas de barro.  A vida em Coimbra, para nós, que vínhamos de cidade grande, era mais indolente, com inúmeros momentos a serem degustados lentamente. Sempre tive para mim, que a névoa da manhã ritmava o dia e deixava que acordássemos vagarosamente, para depois também juntarmos o som dos nossos passos no caminho, aos dos demais habitantes: nosso destino, no entanto, era um café na praça e a leitura do jornal matutino. Esses anos em que moramos lá, ainda têm para mim um quê de mágicos e as manhãs enevoadas vestem de encantamento nostálgico essa estadia.

 

©Ladyce West, Rio de Janeiro, março de 2025





Uma velha gramática e um bando de memórias

23 02 2025
Uma velha livraria, ilustração de Guido Borelli (Itália, 1952).

 

 

Meu pai me apresentou às delícias de explorar um sebo.  Lembrei-me disso, hoje, quando organizando novas prateleiras colocadas neste fim de semana, me encontrei com um livro muito antigo que ele comprou para mim, quando comecei a estudar francês aos dez anos de idade. Num final de tarde, vindo do trabalho, papai me entregou um pacotinho, não muito grande, bem embrulhado em papel pardo, com barbante de algodão de dois fios, verde e branco que se enroscavam um no outro.  Muito bem feito, com as rebarbas de papel dobradas em ângulos nas laterais e depois viradas para reforçar as aberturas, o pacote, embalado sem luxo, tinha um pequeno laço no centro, revelando o cuidado do vendedor com a compra. Era um livro. Um livro muito diferente de todos que eu conhecera até então.  Antigo.  A capa dura, com dorso em tecido vermelho, tinha ao centro a gravura de uma mulher sentada, tal qual deusa da antiguidade, talvez Minerva, ladeada por duas crianças: um menino e uma menina.  Em típica estética do início do século XX, a capa também descreve, de uma só vez, em palavras, todo o conteúdo do livro: Curso seguido pela Escola de Paris, inscrito nas listas dos departamentos (estados na França), adotado em todos os países de língua francesa. 800 exercícios 380 ditados e redações, 240 gravuras, publicado pela Librairie Larousse, Paris [1911]. Há outra frase descritiva, mas o tempo já apagou muitos dos caracteres.  Era a Grammaire de Claude Augé, volume relativo ao curso mediano.  Em seu interior havia, pontuando os exercícios de leitura, gramática e demais pontos de ensino, deliciosas gravuras, quadradinhas, não passando de dois centímetros e meio cada, que ilustravam a lição e me deram muitas vezes asas para imaginação.  Fui uma criança e adolescente sonhadora e, sentada à mesa da sala de jantar, fazia os meus exercícios, vagarosamente, sempre com auxílio de um de meus pais.  Mas era comum eles, de repente, pararem as explicações, chamando minha atenção para o texto, para o presente, para o que fazíamos, porque aquelas gravurinhas nos cantos, nas bordas das páginas me levavam a outros mundos. Provavelmente, frustrados com meu progresso em casa, aos doze anos entrei para a Aliança Francesa, e por anos seguidos estudei lá, até mesmo depois de casada, quando morei em São Paulo.  Porque comecei muito cedo no aprendizado do francês acredito que a familiaridade com a língua tenha me ajudado bastante, de maneira totalmente inesperada, em ocasiões que ficam para serem contadas de outra vez.

 

 

Na minha família, naquela época, a língua francesa era a língua estrangeira a se conhecer.  Não é que não dessem valor ao inglês.  Fui aluna, por poucos anos, da Cultura Inglesa, porque meus pais achavam importante eu ter um mínimo de conhecimento de inglês. Mas eu já era adolescente cheia de rebeldia, largando o inglês assim que pude.  A ironia do destino foi que justamente na Cultura Inglesa, do Jardim Botânico, vim a conversar pela primeira vez com o adolescente, que eu já conhecia de vista, porque voltávamos da escola no mesmo transporte público, que mais tarde, poucos anos depois, se tornou meu marido. Nessa época eu ainda não sabia que o destino iria me trazer a obrigação do inglês.  O francês continuou como a língua estrangeira mais importante. Quem poderia imaginar que casada, eu iria morar nos Estados Unidos e voltar de lá mais de três décadas depois?  Esses certamente não eram os planos quando comecei a aprender francês com minha mãe, em casa.  Meu avô materno havia passado algum longo tempo, na Suíça, a trabalho, voltando algumas vezes mais tarde na década de 1950.  Sua primeira e longa estadia foi após a Segunda Guerra Mundial. Vovô era um intelectual, advogado, professor e mais tarde, na década de cinquenta tornou-se escritor com uma coluna sindicalizada nos jornais, que aparecia em diversas publicações por todo Brasil. Ele era fluente em francês.  Seu diário, de que sou a guardiã, tem observações interessantes sobre diversas épocas de sua vida.  Alguma coisa que ele preferia deixar velada, escrevia em francês.  Francês era sua língua de escape, ainda que eu não saiba exatamente quando a aprendeu. Por causa de sua estadia na Suíça, tínhamos lá em casa muitos livros com belas fotos daquele país, e eu, uma coleção de bonecas dos diversos cantões suíços.

Esse não foi o único livro de sebo que papai me trouxe de presente. Muitos outros fizeram parte da minha vida de estudante e certamente da minha vida de leitora.  A Grammaire de Augé, foi o início de um relacionamento feliz com livros antigos.  Um de meus primos, que era afilhado de papai, uma vez me disse que papai sempre lhe dava presentes de aniversário para crianças um pouquinho mais velhas.  Ele gostava, mas tinha que se esforçar para apreciá-los. O mesmo acontecia comigo.  Tenho certeza de que meu francês aos dez anos não deveria ser do nível para essa gramática, segundo volume de uma série de quatro, do ensino para nativos da França.  Mas nem papai, nem mamãe se preocuparam com isso.  Aulas particulares de mamãe começaram quase imediatamente após o livro de Claude Augé chegar lá em casa. Foram aulas pequenas, sem grandes exigências, mas hoje, abrindo aqui e ali, vendo minhas anotações, em pedacinhos de papel marcando lugares específicos no livro, me surpreendi com o material que cobrimos. 

Procurei por essa gramática na Estante Virtual, site de venda de livros de segunda mão.  A gramática ainda existe à venda e há também outros livros novos e antigos esperando por compradores.  Depois de uma hora vagando virtualmente pelos sebos do país, comprei alguns livros que irão alegrar minhas leituras este ano.  Mesmo assim, ainda prefiro entrar nas poucas lojas de livros usados que conheço aqui na cidade, respirar o ar dos livros antigos, um misto de tabaco, mofo, papel velho e poeira que certamente não são bons para alergias, mas a gente dá um jeito. E gosto de desfrutar do silêncio. Adoro o silêncio que livros trazem a qualquer lugar. Gosto também de sair, depois de ter manuseado uma centena de volumes, com uma sacola com dois, três, cinco livros que eu não sabia, ao entrar, que precisava ler; que só de abri-los se tornam indispensáveis para mim.  Hoje, eles vêm para casa em sacos plásticos, quando não em sacola do supermercado reutilizada. Perdemos o encanto de um pacote bem feito, de papel pardo, provavelmente puxado de um rolo grosso preso no tampo do balcão.  Papel milimetricamente dobrado e redobrado; pacote finalizado com barbante de algodão, cujo fio desce de um rolo colocado no teto.  Aqueles eram livros garbosamente vestidos e respeitados pela importância que poderiam ter em nossas vidas.

 

©Ladyce West, Rio de Janeiro, 2025





Um mundo cheio de mundos, texto de Nancy de Souza

27 06 2024

Jovem lendo com suéter roxa

Rick Beerhorst (EUA, 1960)

óleo sobre tela, 76 x 76 cm

 

 

 

 

“Meu pai era um oficial da Marinha cheio de restrições com respeito à nossa criação, mas a pior delas era o fato de que não podíamos  sair do perímetro de nossa casa. Até para irmos à varanda tínhamos que ter permissão e supervisão. Passeios de escola, nem pensar! Viagens para nós eram, simplesmente, algo impensável.

A saída que encontramos foi a nossa imaginação, com ela íamos a todos os lugares. Uma árvore era uma nave espacial, na qual visitávamos outras galáxias; com um giz desenhávamos circuitos no chão de terra do nosso quintal, que nos levavam a outros mundos; com cadernos e lápis construíamos escolas e, se olhássemos bem dentro de uma bolinha de gude, podíamos ver universos repletos de vias lácteas. Nos dias de chuva, construíamos labirintos com as almofadas ou imaginávamos teatros de terror, que no final nos davam tanto medo, que a brincadeira logo acabava. Nosso mundo era cheio de mundos, um dentro do outro como aquela bonequinha russa. E tínhamos também outra chave mágica: os livros.”

 

 

Em: Aventuras e Desventuras de Benjamin James, Nancy de Souza, Campo Grande, MS, Editorial Eirele: 2019, p.103





Encontro carioca

1 06 2023
Encontro com a amiga e também escritora Lenah Oswaldo Cruz, em um café no Leblon, RJ.
 
Caso vocês não saibam, Lenah é autora de A voz do tempo, um livro absorvente. São memórias de suas angústias e incompreensão ainda menina, depois adolescente, e finalmente jovem mulher, para entender a paixão de Dora e Luiz, seus pais, paixão que se autodestruiu mas que gerou frutos fecundos.
 
Lenah tem sido também uma das maiores incentivadoras da minha escrita, tanto na poesia como sobre arte. Foi uma prazer imenso passar umas horinhas em sua companhia.