Esse perfume, soneto de Emiliano Perneta

24 11 2021

Moça com véu, 1949

João Fahrion (Brasil, 1898 -1970)

óleo sobre tela

 

Esse perfume

Emiliano Perneta

 

Esse perfume — sândalo e verbenas —

De tua pele de maçã madura,

Sorvi-o quando, ó deusa das morenas!

Por mim roçaste a cabeleira escura.

 

Mas ó perfídia negra das hienas!

Sabes que o teu perfume é uma loucura:

— E o concedes; que é um tóxico: e envenenas

Com uma tão rara e singular doçura!

 

Quando o aspirei — minhas mãos nas tuas —

Bateu-me o coração como se fora

Fundir-se lírio das espáduas nuas!

 

Foi-me um gozo cruel, áspero e curto…

Ó requintada, ó sábia pecadora,

Mestra no amor das sensações de um furto!

 

Em: 101 Poetas Paranaenses: V.1 (1844 -1959) –  antologia de escritas poéticas do século XIX ao século XXI, seleção e apresentação de Ademir Demarchi, Curitiba, Biblioteca Pública do Paraná: 2014, p.35