No futuro… texto de William Boyd

31 05 2016

 

 

john a copley (EUA) seedling_jpgPlantando, 2007

John A. Copley (EUA,contemporâneo)

acrílica sobre tela, 20 x 25 cm

www.johnacopley.com

 

 

“Fui até o jardim e fumei um cigarro. Na semana passada, plantei uma árvore no último canteiro do jardim, em homenagem ao nosso bebê. A muda tem a minha altura e, pelo que vejo, pode atingir doze metros de altura. Então, daqui a trinta anos, se ainda estivermos vivos, vou poder voltar aqui e vê-la no esplendor de sua maturidade. Entretanto, a ideia me deprime: daqui a trinta anos estarei na casa dos sessenta e vejo que esses projetos, feitos de forma irrefletida, começam a se extinguir. Vamos supor um período de quarenta anos então. Seria demais. Cinquenta? Eu provavelmente não estarei mais aqui. Sessenta? Morto e enterrado, certamente. Graças a Deus não plantei um carvalho. Seria esse um bom exemplo de limite temporal? O momento em que você percebe — meio racionalmente, meio inconscientemente — que o mundo, num futuro não muito distante, não terá mais você: que as árvores que você plantou continuarão a crescer, mas você não estará aqui para testemunhar isso.”

 

 

Em: As aventuras de um coração humano, William Boyd, Rio de Janeiro, Rocco: 2008, tradução de Antônio E. de Moura Filho, p. 217-18.