Ilustração, Stevan Dohanos (1907 – 1994)
Meio do mês e ainda não consegui organizar tudo que pretendia. Comecei logo depois do Natal com as pastas no computador. Tenho mais de duas centenas delas. Cada pasta pode ter dezenas de subdivisões. Se por acaso guardo alguma coisa, alguma imagem, poema, artigo, notas na pasta errada, aquilo pode estar perdido para sempre, descoberto só ao acaso. Se eu tivesse nascido no século XVIII, seria uma enciclopedista, porque catalogo e organizo o que me cai nas mãos. Esse hábito vem do primeiro curso do mestrado, curso requerido pela Univ. de Maryland. chamado Métodos. Se não se passasse nesse curso era bye-bye para a possibilidade de um mestrado ou PhD. Era sobre métodos de pesquisa acadêmica, especificamente voltado para história da arte. Esse curso foi dado talvez pelo mais brilhante professor que já tive (que procurei imitar a vida toda), meu conselheiro, que mais tarde veio a ser diretor do Museu de Belas Artes de Lausanne, na Suíça. Mas esse meu hábito não é exportado para outros aspectos da minha vida. Ainda bem, porque acho que poderia ser uma coisa muito aborrecida. Não sou uma acumuladora, muito pelo contrário. Até mesmo meus livros não têm ordem rígida nas estantes e a cada semestre faço doação de algumas dezenas deles.
Quando abro meu computador vejo mais ou menos o que a imagem acima me mostra, Só que com mais pastas. Não sei exatamente a lógica que utilizo. Ela responde unicamente à minha cabeça. E há muita coisa guardada. Os nomes das pastas, só eu mesma posso decifrar, e como são muitas, nem sempre me lembro de como organizei. Às vezes tenho que parar para pensar onde alguma coisa estaria colocada. Vou dar um exemplo recente. Fiz um curso de escrita de contos, em agosto: 30 dias, 10 contos. O curso está numa pasta Curso de Contos. Desde o primeiro dia, tínhamos que produzir um pequeno conto de 1500 palavras a cada 3 dias. Foi uma maratona, porque os tópicos não eram meus, os tópicos foram dados pela professora. Para cada tópico eu poderia ter uma ou mais tentativas. Nem sempre a primeira ideia se desenvolve bem. Então a pasta, Curso de Contos, tem todas as aulas, que estão subdivididas em outras pastas: aulas, exercícios, tentativas e resultados finais. Quatro subdivisões. Mas não para aí, porque dentro das tentativas há outras coisas. Exemplo: um dos temas dos contos: Fake News. Ora, eu não queria entrar num tópico controverso. Se há coisa que tenho evitado é entrar nessa loucura das discussões atuais. Então, resolvi procurar algo sobre a guerra da Rússia na Georgia, há anos. Eu me lembrava de ter lido a respeito… Ia dar uma repaginada no evento. Procurei na internet… li os artigos sobre esse evento nos anos 90 do século passado. E inventei uma situação plausível. Mas alguns dos artigos copiei e colei num documento para me lembrar dos nomes de lugares, (dificílimos) distâncias, o que era ao norte ou a oeste, etc… Todos esses textos também estão em uma pasta Textos-suporte, dentro da pasta tentativas. E assim as coisas vão se acumulando.
E, pasmem: os três contos que têm alguma possibilidade de se tornarem bons contos, três de dez, nada mal para um investimento de 30 dias, separei e… como não consigo deixar de fazer palhaçadas com os nomes, ou tentar me confundir (será?) … coloquei os três numa pasta chamada: Caixa de Pandora que imagino poder ter algo a ver com um título, caso haja uma coletânea no futuro. Mas essa é uma pasta que aparece sozinha, lá naquela primeira tela, sem qualquer referência ao que tem dentro.
Surpresa, ilustração de Margret Boriss.
A necessidade de organizar as informações no meu computador se tornou evidente quando fui surpreendida por uma emergência burocrática em setembro que me obrigou a viajar de supetão para os Estados Unidos, momento em que, para piorar, percebi que meu passaporte havia expirado. Precisava de um novo. Esse período de setembro/outubro foi um constante lidar com burocracias de dois países trazendo um tremendo desgaste energético, emocional e financeiro, porque era uma viagem e estadia inesperadas. Desde que enviuvei, passei, por precaução, informações que imaginei serem necessárias numa emergência para minha sobrinha, que não só é fluente em inglês como advogada trabalhando numa firma internacional. Uma pessoa em quem confio e que pode destrinchar qualquer problema em português ou inglês. Mas, ficou claro, que se ela precisasse navegar através das centenas de pastas importantes no meu computador a coisa ia ficar periclitante.
Nesses 16 anos de blog, com postagens quase todos os dias, leitores perguntam como arranjo as fotos, as ilustrações, os quadrinhos. Bem, estão todos no meu computador. Tudo espalhado em pastas Se estou em dia de apresentar Arte Brasileira, vou para a pasta com esse nome. Ela é subdividida em outras pastas, que por sua vez são subdivididas em outras pastas, cujos significados às vezes só eu entendo: Profissões, Cidades, Naturezas mortas, Retratos, Paisagens e assim por diante. Cada uma delas se subdivide. Por exemplo: Arte Brasileira>Tipos> Meninos, Meninas, Mulheres, Homens, Casais, Familias, assim por diante, todos, na verdade, são retratos. Crianças também aparecem nas pastas: Brinquedos-brincadeiras; Gênero, Maternidade, Músicos. A pasta de imagens mais complexa que tenho é a que denominei Festas. Não é a que tem o maior número de fotos, mas é a que tem o maior número de subdivisões que vão de festas folclóricas, a religiosas, a Carnaval, Natal, Procissões, Casamentos, Enterros, Santos (esses subdivididos), etc. É um sistema abstruso. Mas são milhares de imagens.
A maioria dos quadrinhos, eu mesma fotografei. Eles também são subdivididos em pastas de acordo com assuntos tratados nas imagens. Na última vez que abri, semana passada, o total de ilustrações de quadrinhos eram 1.268. E sempre retiros dessas pastas as imagens que já usei, para não haver repetição. Há. Mas é sem querer.
Às vezes gasto mais tempo escolhendo a foto da postagem do que a própria postagem. Tenho uma boa coleção de revistas em quadrinhos em casa. Quando posso e os preços não sobem muito, compro um lote ou outro de gibis antigos em leilão. Só para me divertir. Para o blog há gibis mais interessantes que outros. Mas gosto da maioria dos gibis antigos. Não gosto por exemplo, da Monica adolescente.
Margarida responde aos leitores, Ilustração Walt Disney.
Enfim, é um mundo de muita informação. Não pretendo ter que ensinar tudo isso à minha sobrinha. Afinal, quando necessário for para ela assumir qualquer pasta no meu computador, nada terá a ver com o blog. Mas como hoje toda documentação burocrática é digital também tenho pastas com esse material e descobri que sou um tanto criativa no nome delas. Eu mesma às vezes não me lembro bem o que o nome da pasta significa. Só me dou conta depois de abri-la. Por isso estou tentando organizar as coisas no computador. Mudando nomes e até escolhendo a figurinha que pode ir ao lado do nome da pasta. Mas isso é perigoso também porque já notei minha tendência a ser criativa nessa escolha. Mas vamos lá: essa postagem, é sinal claro, de que prefiro escrever do que arrumar a casa.
Fica a pergunta: como vocês organizam seu computador?










