Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
O papagaio, representante de terras distantes e exóticas, adquiriu o simbolismo da luxúria no século XIX. A tendência vinha desde o século anterior, quando a Europa despertou para o mistério dos países sob domínio do Império Otomano. Um dos mais conhecidos exemplos da arte erótica que inclui o papagaio é a tela de Gustave Courbet , Mulher com papagaio, datado de 1866. Na verdade, o tema que ressurge nessa época, não sucumbe de todo até os anos 30 do século XX, período em que nas artes gráficas a melindrosa acompanhada de um papagaio é frequente.
Gravura, Mulher com papagaio, França, 1903.
Com a facilidade adquirida de reproduzir imagens coloridas no final do século XIX com técnicas inovadoras nas artes gráficas aos poucos tornou-se mais comum vermos gravuras e ilustrações nas primeiras décadas do século XX de mulheres sensuais, ainda que muito estilizadas, para consumo e prazer de uma plateia masculina.
Ilustração de 1914 por Gerda Wegener (Dinamarca, 1889-1940).
Inicialmente as “meninas travessas” do início do século XX apareciam em cartões postais de fotografias como esse francês, abaixo, que mostra uma moça vestindo ou despindo um espartilho, em um postal colorido à mão.
Cartão postal, [sem papagaio] c. 1910.
Mais tarde, com as mudanças de comportamento pós-Grande Guerra, os postais mostraram imagens mais arriscadas. Nessa época o pássaro preferido dos artistas visuais era o pavão, cujas penas se prestaram a decorações elaboradas das gravuras Art Nouveau.
Cartão postal francês,[sem papagaio] década de 1920.
Billy Devorss (EUA, 1908-1985) artista gráfico chegou a combinar, na gravura para anuncio de 1928, “Penas e Pérolas” ambos os pássaros exóticos frequentemente associado às belezas tentadoras.
Ilustração Billy Devorss (EUA, 1908-1985), Penas e Pérolas, 1928.
Foi durante a Segunda Guerra Mundial que as meninas provocantes, sensuais, que nunca mostravam nenhuma parte do corpo explicitamente, só aludiam a uma possível descoberta, tornaram-se mais populares nas folhinhas de oficinas mecânicas, nos bares de sinuca e nas trincheiras da guerra, quando lembravam, à rapaziada com baioneta nas mãos o que lhes esperava de volta à casa.
Exemplo de folhinha de 1930, de Rolf Armstrong (EUA, 1889-1960) para a Brown & Bigelow.
Muitos artistas gráficos se distinguiram nesse período, um dos mais famosos, foi Alberto Vargas (1896-1982), nascido no Peru, emigrado para os EUA, que ficou famoso a partir da década de 1940, quando começou a desenhar essas moças em situações provocantes para a revista Esquire. Ele que provavelmente conhecia uma arara em seu habitat natural, parece não ter se dedicado ao tema. Não encontrei nenhuma imagem por Vargas de uma moça com papagaio. Isso não quer dizer que ele não tenha feito, apenas que a minha breve pesquisa não encontrou nenhum desenho composto de moça e arara, mas seus colegas de profissão aderiram ao tema.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Poucos no entanto se dedicaram com tanta persistência ao tema, do papagaio como Bradshaw Crandell. Há a típica pin-up dos anos 40 como a desenhada para uma folhinha pelo artista americano H. Weston Taylor (1881-1978) abaixo. Digo típica porque aqui se repete o que Dian Hanson descreveu em seu livro “The Art of the pin-up” lançado no ano passado, em edição de luxo, editado pelo historiador cultural Sarahjane Blum. “uma imagem provocadora mas nunca explícita de uma mulher atraente criada especificamente para consumo público em meio ambiente masculino“. [ A tradução é minha].
Ilustração de H. Weston Taylor (EUA, 1881-1978), para folhinha 1942.
H. Weston Taylor é um daqueles, trabalhando em meados do século, a usar o papagaio como acompanhante da jovem pin-up.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Ou ainda nessa versão do tema “alimentando a arara” — que aqui leva o título de “Encontro para Jantar” [Dinner Date] de Bradshaw Crandell.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Outro artista famoso por suas meninas travessas, foi Enoch Bolles (EUA, 1883-1976) que produziu esta jovem beijando um papagaio para a capa da revista Film Fun, de novembro de 1936.
Ilustração de 1936, por Enoch Bolles (1883-1976).
Mas Bradshaw Crandell retorna ao tema, uma, duas três vezes.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Vamos ser amigos? é o nome dessa ilustração de Bradshaw Crandle. A ilustração com a jovem segurando o papagaio com a mão esquerda lembra a ilustração seguinte, anterior, do ano de 1929.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Titulada “Bela loucura” [Pretty Folly] ela foi usada para o calendário da companhia de seguros de Peoria Illinois, para o ano de 1929. Na verdade, a expressão em inglês pin-up vem justamente dos calendários. Significando arte para dependurar — pin-up art — essas ilustrações travessas eram frequentemente parte das folhinhas mandadas para os clientes de negócios como lembrança de boa festas, ao final do ano.
Calendário com ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Só mais tarde, nos anos 40 do século passado, essas ilustrações sensuais passaram a fazer parte das revistas que tinham como principais fregueses a ala masculina da sociedade.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Ou a arara ajuda a leitura do bilhete de amor que a moçoila recebeu — como sei que era um bilhete de amor? Olhe para os olhos brilhantes da jovem… Ou ela ajuda à sofisticação do cetim dourado do vestido desse trabalho anterior que leva o nome de Penas Refinadas.
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Recentemente veio a leilão um dos guaches de Bradshaw Crandell para a ilustração Por Favorzinho [Pretty Please] que vemos abaixo produzido na década de 1930:
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
O guache preparatório nos oferece uma pequenina janela no processo de criação:
Ilustração de Bradshaw Crandell (EUA, 1896-1966).
Ainda que sua carreira estivesse no auge depois da Segunda Guerra Mundial, Bradshaw Crandell não parece ter retornado ao tema do papagaio com a moça sexy na década de 1950. Nessa época dois outros desenhistas de pin-up girls ainda exploraram o tema do papagaio mas nem sempre com a sensualidade de Crandell.
Penas e Modas [Feathers and Fashions], 1956 por Gil Elvgren (EUA, 1914-1980).
A ilustração acima de 1956 por um dos mais conhecidos artistas de pin-up o americano Gil Elvgren (1914-1980), já tem menos romantismo, mas mais humor. Mesmo assim Elvgren, como Crandell, tem uma série grande de moças com papagaios. Eis alguns seus outros trabalhos:
O minimo necessário [Bare Essentials], 1957 por Gil Elvgren (EUA, 1914-1980).
É interessante notar que todos os títulos dessas ilustrações usam de trocadilhos. Freud já havia há muito tempo explorado o humor como porta de entrada para o inconsciente. Nada mais justo então que ele seja explorado justamente em imagens que apelam aos mais íntimos desejos do público masculino.
Jogo do biscoito, [Cracker Capers], 1960 por Gil Elvgren (EUA, 1914-1980).
Penas eriçadas [Ruffled Feathers], 1967 por Gil Elvgren (EUA, 1914-1980).
Outra ilustração de Gil Elvgren, mas desconheço o título e a data.
Mais ou menos da mesma época e com um estilo próprio temos um exemplar do artista gráfico Earl Moran (EUA, 1893-1984). Aqui a nossa pin-up girl está cansada do matraquear do papagaio.
Ilustração de Earl Moran (EUA, 1893-1984).
Houve outros artistas de pin up que também se dispuseram a desenhar situações engraçadas de moças sensuais com araras ou papagaios. Destacam-se:
Papagaio esperto [Clever Parrot] Ilustração de Peter Driben (EUA, 1903-1968), desconheço a data.
Ilustração de Joyce Ballentyne (EUA, 1918-2006), desconheço a data.
Nem mesmo Joyce Ballentyne uma das poucas mulheres e artistas gráficas desenhistas de pin-ups escapou do tema como vemos na ilustração acima. Harry Ekman (EUA, 1923-1999) é outro artista de pin-up girls de quem tenho o desenho original anterior ao produto acabado e publicado. Com o nome de Penas e Pérolas [Feathers and Pearls] ele nos apresenta um jovem sensual entretida com uma arara — um papagaio — que segura uma fio de pérolas com o bico.
Ilustração de Harry Ekman (EUA, 1923-1999).
Desenho preparatório a lápis, com instruções, para a ilustração Penas e Pérolas, de Harry Ekman (EUA, 1923-1999).
Note-se que o título desta ilustração é o mesmo da ilustração Billy Devorss (EUA, 1908-1985), Penas e Pérolas, 1928, bem no início desta digressão sobre papagaios e sensualidade. Tenho certeza de que ainda há muitos outros a serem descobertos. Inclusive entre os artistas gráficos ainda vivos.
Como também Baron von Lind (EUA, 1937), que se assina simplesmente Baron.
Desconheço o título e a data.
Desconheço o título e a data.
Agora, digam-me: devo aconselhar as moças solteiras que conheço que adotem um papagaio como animal de estimação para melhor atraírem o sexo oposto?
Se não, podem me explicar a ligação entre sensualidade e as araras?












![Fé Córdula [Francisco de Assis Córdula] (Brasil, 1933), Noivos,30x40,ost](https://peregrinacultural.com/wp-content/uploads/2012/06/fc3a9-cc3b3rdula-francisco-de-assis-cc3b3rdula-brasil-1933-noivos30x40ost.jpg?w=510&h=391)
















