Tocando Violão, 2006
Tony Lima (Brasil, 1964)
óleo sobre tela, 80 x 60 cm
Serenata
Elmano Queiroz
Não sei porque nas horas sossegadas,
Comove tanto a música das ruas.
Parece que, alta noite, essas baladas,
Relembra, coisas íntimas passadas
Em fases mais ditosas de outras luas.
Parece que o cantar do boêmio errante
Vai derramado pela noite fora,
Motivos simples de canções de outrora.
Reminiscências de lugar distante.
Uma capela rústica, pequena,
Ao pé do morro, entre árvores antigas…
Outras vozes simpáticas, amigas…
O luar na aldeia… as noites de novenas.
Os goivos das saudades que passaram
Ressuscitam, na alcova, a noite morta,
Quando esses boêmios passam pela porta,
Cantando essas canções, que outros cantaram.
Lembram noites da infância… A alma assustada…
Um tropel… um rumor… um bater d’asa…
As goteiras, chorando na calçada…
O caboré gemendo, atrás da casa…
Tudo desperta, no silêncio d’alma,
Quando passam cantando pela rua,
Na alcova, a insônia… lá por fora, a calma…
E na volúpia que da Lua transborda
A imagem da saudade branca e nua…
Depois, ao longe, um cão, que um ébrio acorda,
Fica na solidão ladrando à luz…
[1924]
Em: A lira na minha terra: poetas antigos e contemporâneos no Pará, Clóvis Meira, Belém: 1993, p.114-5




