Grace Rose, 1866
Frederick Sandys (Inglaterra, 1829-1904)
óleo sobre madeira, 28 x 24 cm
Yale Center for British Art, EUA
Aquarela
Francisca Júlia
Cheio de folhas, úmido de orvalho.
Fresco, à beira de um córrego crescia
Jovem pé de roseira em cujo galho
Uma rosa sorria.
O orvalho matinal que o beija e molha,
Desce de cima em brancas névoas finas.
E todo pé salpica, folha a folha,
De gotas pequeninas.
Beija-o o perfumeo Zéfiro, que passa,
O grupo de falenas que anda à toa,
A borboleta clara que esvoaça,
E o pássaro que voa.
Uma moça gentil sentiu anseio
De possuir a rosa e teve mágoa
De não poder colhê-la, com receio
De molhar os pés na água.
A roseira agitou a coma e opima,
Estremeceu, embriagada e douda,
Sob os raios do sol que lá de cima
A iluminavam toda.
A moça foi-se; o ar estava morno;
Mansamente o crepúsculo descia;
Uma abelha zumbiu36 da rosa em torno;
Lento, expirava o dia…
Porém nessa hora a ventania brava
Que veio do alto impetuosamente,
Arranca a flor do ramo em que se achava
E joga-a na corrente.
E a flor caiu no meio do riacho;
Do vento rijo foi sofrendo o açoite,
E escorregando em prantos, água abaixo,
Na tristeza da noite.
Nenhuma flor pode salvar-lhe a vida;
Na água desceram, entretanto, algumas;
E a flor morreu aos poucos, envolvida
Num círculo de espumas.
Em: Livro da Infância, Francisca Júlia da Silva, 1899, em domínio público





