O cacto, poema de Manuel Bandeira

29 07 2024

Mandacaru, 1951

Dimitri Ismailovitch, (Ucrânia-Brasil, 1892-1976)

crayon e pastel sobre papel, 54 x 36 cm

 

 

 

O Cacto

 

Manoel Bandeira

 

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:

Laocoonte constrangido pelas serpentes,

Ugolino e os filhos esfaimados.

Evocava também o nosso seco Nordeste, carnaubais, caatingas…

Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

 

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.

O cacto tombou atravessado na rua,

Quebrou os beirais do casario fronteiro,

Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,

Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e energia:

 

– Era belo, áspero, intratável.

 

Petrópolis, 1925

 

Em: Libertinagem, Manuel Bandeira, Global Editora, São Paulo, 2013


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