O amor: passagem de Érico Veríssimo em homenagem a Santo Antônio

13 06 2024

Cena galante no parque

Franz Xaver Simm (Áustria, 1853-1918)

óleo sobre painel de madeira,  32 x 24 cm

 

 

 

“Eugênio pensava ainda em Margaret. Aquele amor secreto era a melhor coisa de sua vida. Tinha um gosto de romance, um romance que ele escrevia com a imaginação, com o desejo, já que a vida se recusava a dar-lhe um romance de verdade. No silêncio de certa noite, em que o luar lhe entrava pela janela do quarto, ele pensou em Margaret, estendido na cama, de olhos fechados. Imaginou mais um encontro noturno, debaixo das árvores do jardim. (Nessas conversas ele perdia a timidez, era como se a luz da lua conseguisse limpar-lhe o rosto das espinhas e a alma dos pecados, era como se o luar fizesse até o milagre de lhe dar uma voz agradável, parelha e máscula.) Os dois ficaram a contemplar-se em silêncio. Os cabelos dela pareciam de prata. Os dele, de bronze. Um organista misterioso tocava músicas muito doces na capela. Margaret contou-lhe histórias do tempo em que sua família morava na China, onde seu pai fora missionário. Em troca, ele lhe descreveu sonhos, planos de vida.”

 

 

Em: Olhai os lírios do campo, Érico Veríssimo, Rio de Janeiro, Cia das Letras: 2005, versão eletrônica.


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