Meus favoritos: Jean-Léon Gerôme

26 10 2023

Vendedor de tapetes, c. 1887

Jean-Léon Gerôme (França, 1824-1904)

óleo sobre tela, 86 x 68 cm

Minneapolis Institute of Arts

 

 

Depois que Napoleão percorreu o Oriente Médio e tomou possessão de muitos locais, o interesse pelas terras com costa no Mediterrâneo aumentou substancialmente.  Já desde do século XVII eram terras procuradas pelos jovens de famílias europeias abastadas, quando antes de assumirem suas obrigações como membros adultos da sociedade, participavam da chamada Grand Tour [A grande viagem].  A Grand Tour era simbolicamente a passagem para a vida adulta, o ponto final de uma educação primorosa. Originalmente o centro desta viagem de aprimoramento educacional para jovens homens da sociedade era Roma.  No entanto, à medida que a facilidade de locomoção e o mundo de cultura europeia se expandiu para outras terras a visita aos lugares pitorescos com culturas diferentes dos visitantes, foi se expandindo para toda a área do Mediterrâneo até locais mais longínquos de domínio otomano como a Turquia. 

Artistas de todas as áreas se imiscuíram entre os visitantes atraídos não só pelo exótico como pela qualidade de luz nestes locais mais ao sul, à beira do deserto de Saara. Foram muitas as gerações de pintores que não se cansaram de retratar em óleo ou aquarela paisagens e o cotidiano local.  A eles dá-se o nome de Orientalistas. Tudo era diferente e seduzia.  Fantasias foram criadas, sedutores contos escritos.  Por quase duzentos cinquenta anos a fascinação com essas culturas povoou a imaginação das mentes criativas da Europa.

Jean-Léon Gerôme esteve no Cairo em 1885  em uma de suas diversas viagens ao leste. Dois anos depois, pintou o quadro Vendedor de Tapetes que vemos acima.  Esta cena tem muitas das características que fizeram de Gerôme o mais bem sucedido pintor da segunda metade do século XIX.  Surpreso?  Sim, Gerôme era nome obrigatório em qualquer coleção de peso.  Muito desejado.  Gerôme, filho de um joalheiro, trouxe para a pintura figurativa a riqueza de cores que associamos às pedras preciosas e com elas um sentido tátil, de luxúria.  Vejam por exemplo os detalhes de cor e de texturas nesses tapetes no chão em primeiro plano.

 

 

 

DETALHE, Vendedor de Tapetes, 1887, Gerôme.

 

 

Além disso os tons ricos e brilhantes da roupagem dos compradores que de pé negociam e esperam aprovação de suas ofertas, olhando para os verdadeiros donos das peças negociadas que se encontram na balaustrada. Tons de ouro do turbã, repetidos na Kandura (roupão externo) do companheiro de ofertas, e de novo, lá em cima na roupagem do vendedor, parecem ser refletidos também na nas paredes do fundo, que mostram pequenos raios de sol iluminando o local.

DETALHE, Vendedor de Tapetes, 1887, Gerôme.

 

Note a repetição aqui e acolá dos tons dourados na composição.  Do turbã do comprador à Kandura (roupão externo) do vizinho em pé, contrastado com a kandura azul-rei de outro comprador, o dourado da roupagem do vendedor que se debruça sobre a cena, aos tons dourados das paredes refletindo o sol provavelmente implacável do mundo exterior, todos esses detalhe trazem um tom de encantamento, de mil e uma noites, de sedução sensorial que nos convida a entrar nesta cena.

 

 

DETALHE, Vendedor de Tapetes, 1887, Gerôme.

 

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A tela de tamanho médio  de 86 x 68 cm reforça a ideia de um mundo além da nossa realidade; um mundo um tanto encantado, de temperatura agradável, trazida pela altura do teto e das lajotas vitrificadas que compõem o piso. O vulto de uma mulher, escondida numa porta ao fundo completamente coberta pelo que parece ser um haik de cor azul também contribui para esse sentimento de segredo e sedução.

Obra riquíssima, este quadro está certamente entre os meus favoritos.  O que vocês acham?

 


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