Virgem anunciada, 1475
Antonello da Messina (Sicília, c. 1429-1431– 1479)
óleo sobre madeira, 45 x 24 cm
Palazzo Abatellis, Sícilia
Na época em que o pintor viveu, a Sícilia estava sob domínio da Espanha. Também sob domínio da Espanha estava a região de Flandres e dos Países Baixos. A influência dos mestres pintores da Europa do Norte é imediatamente sentida. Como? Pelo retrato de Maria. Antonello não a coloca em qualquer ambiente. Estamos vendo uma mulher, de carne e osso, retratada da cintura para cima. É um retrato nos termos dos retratos de Jan van Eick e seus contemporâneos: é uma pessoa reconhecível, uma pessoa com aparência comum. Grande parte dos retratos do pintor seguem a tradição da pintura da Europa do Norte. Maria tem muito pouco que a identifique como a futura mãe de Jesus. Ela não tem halo que signifique sua santidade. Esta nos é dada por dois elementos, que no século XV estavam associados à Anunciação de Maria: o manto azul e o porta-Biblia. Na tradição iconográfica da época, Maria, quando está sendo anunciada pelo anjo Gabriel, tem a leitura dos textos sagrados interrompidos. Mas também porta um véu azul. Aqui, neste quadro, Antonello inventa. Esse momento já passou. Gabriel já foi embora, por isso o título Maria Anunciada (no passado). Vemos, então, Maria, um tanto atônita, retomar sua leitura. Há a transmissão de um grande silêncio nessa tela, grande impacto, porque não há nada que distraia nossa atenção. Não há anjo. Não há o vaso com lírio simbolizando sua pureza. Ela não está na tradicional varanda. Não há mobiliário que leve nossos olhos a outros lugares. Não há hortus conclusus significando sua virgindade. Não temos a pomba do Espírito Santo, nem as frases ditas pelo arcanjo. Tudo foi retirado. Nosso foco é nessa moça, tímida, com os olhos baixos e desviados do livro, como se acompanhasse o voo de despedida de Gabriel. O fundo escuro nos faz prestar atenção nela. Toda força emocional está em seu rosto.
Antonello da Messina não só foi inovador na representação de Maria, mas aproveitou o momento também para mostrar quão exímio era na representação da perspectiva, fazendo um belo escorço na mão estendida de Maria.