Bate-papo com Ladyce West

5 10 2023




Meus favoritos: Antonello da Messina

5 10 2023

Virgem anunciada, 1475

Antonello da Messina (Sicília, c. 1429-1431– 1479)

óleo sobre madeira, 45 x 24 cm

Palazzo Abatellis, Sícilia

 

 

Na época em que o pintor viveu, a Sícilia estava sob domínio da Espanha.  Também sob domínio da Espanha estava a região de Flandres e dos Países Baixos.  A influência dos mestres pintores da Europa do Norte é imediatamente sentida.  Como?  Pelo retrato de Maria.  Antonello não a coloca em qualquer ambiente.  Estamos vendo uma mulher, de carne e osso, retratada da cintura para cima.  É um retrato nos termos dos retratos de Jan van Eick e seus contemporâneos: é uma pessoa reconhecível, uma pessoa com aparência comum. Grande parte dos retratos do pintor seguem a tradição da pintura da Europa do Norte. Maria tem muito pouco que a identifique como a futura mãe de Jesus.  Ela não tem halo que signifique sua santidade.  Esta nos é dada por dois elementos, que no século XV estavam associados à Anunciação de Maria: o manto azul e o porta-Biblia.  Na tradição iconográfica da época, Maria, quando está sendo anunciada pelo anjo Gabriel, tem  a leitura dos textos sagrados interrompidos.  Mas também porta um véu azul.  Aqui, neste quadro, Antonello inventa. Esse momento já passou.  Gabriel já foi embora, por isso o título Maria Anunciada (no passado). Vemos, então, Maria,  um tanto atônita, retomar sua leitura.  Há a transmissão de um grande silêncio nessa tela, grande impacto, porque não há nada que distraia nossa atenção.  Não há anjo.  Não há o vaso com lírio simbolizando sua pureza.  Ela não está na tradicional varanda. Não há mobiliário que leve nossos olhos a outros lugares.  Não há hortus conclusus significando sua virgindade. Não temos a pomba do Espírito Santo, nem as frases ditas pelo arcanjo. Tudo foi retirado.  Nosso foco é nessa moça, tímida, com os olhos baixos e desviados do livro, como se acompanhasse o voo de despedida de Gabriel.  O fundo escuro nos faz prestar atenção nela. Toda força emocional está em seu rosto. 

Antonello da Messina não só foi inovador na representação de Maria, mas aproveitou o momento também para mostrar quão exímio era na representação da perspectiva, fazendo um belo escorço na mão estendida de Maria.