Curiosidade Literária

14 08 2023
Esperando o trem, ilustração de Thornton Utz, 1955.

 

Ernst Hemingway se transformou ao longo dos anos em ícone da masculinidade.  Desde criança dizia “não ter medo de nada”,  Mais tarde, jovem, fez de tudo para ir à guerra, quando se feriu gravemente.  Bebia muito, praticava o boxe e se dedicava à pescaria.  Acreditava que era necessário sempre manter boa compostura quando encarava o medo.  É surpreendente saber, no entanto, que quando pequeno, sua excêntrica mãe, que muito desejara uma gêmea para a filha mais velha Marceline, o vestia com roupinhas de menina, dando-lhe cortes de cabelo de menina e apresentava Ernst aos vizinhos, como sua filha Ernestina.

 

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Duas fontes:

Secret Lives of Great Authors: What Your Teachers Never Told You about Famous Novelists, Poets, and Playwrights, de Robert Schnakenberg, Kindle Edition, 2008

“Hemingway and Masculinity”, Mark M. Dudley e Suzanne del Guizzo, na Hemingway Review

 

 

 





Nova York, texto de Vivian Gornick

14 08 2023

Cena de rua em Nova York, 1990

Matthew Popielarz (EUA, 1926-2012)

óleo sobre tela,  76 x 121 cm

 

 

 

“Estou subindo a Quinta Avenida ao meio-dia diretamente ao encontro da luz solar fria e crua de uma manhã de novembro. Hordas de pessoas vêm na minha direção. Antes essas hordas eram compostas predominantemente de brancos, agora são de negros e outras origens. Antes se vestiam de azul e colarinho branco; agora, de roupas informais. Antes respeitavam a lei, agora não. A língua mudou, mas o espírito se mantém estável. De vez em quando vejo um rosto e um personagem perdido em meio aos jeans e jaquetas de praxe — alguém de rosto estreito e cútis alva vestindo peles lustrosas (Paris, 1938); alguém trigueiro e perigoso falando espanhol da ilha (Cuba, 1952); alguém com olhos de ameixa e além do tempo (Egito, 4000 a.C.) — e sou lembrada da natureza persistente da multidão. Nova York me pertence tanto quanto pertence a todos eles: não mais a mim do que a eles. Estamos todos aqui na Quinta Avenida pela mesma razão e em virtude do mesmo direito. Todos nós percorremos incessantemente as ruas das capitais do mundo: atores, caixeiros, bandidos; dissidentes, fugitivos, clandestinos; gays de Nebrasca, intelectuais poloneses, mulheres à margem do tempo. Metade dessas pessoas vai ser engolida pelo brilho e pelo crime — desaparecendo em Wall Street, escondendo-se no Queens —, mas metade delas será eu: uma caminhante na cidade; aqui para alimentar a torrente incessante de multidão incessante que certamente está ficando impressa na criatividade de alguém.”

 

 

Em: Uma mulher singular, Vivian Gornick, tradução Heloísa Jahn, São Paulo, Editora Todavia: 2023, Edição Kindle.