Leituras de 2022: “A lição de Anatomia”, de Nina Siegel, resenha

4 07 2022

Retrato de Laila, 1949

Rubens Bustamante Sá (Brasil, 1907-1988)

óleo sobre cartão, 69 x 50 cm

Rembrandt é um dos meus pintores favoritos.  Meu segundo interesse, depois da Arte Moderna, é a arte do Século de Ouro da Holanda.  Tive o prazer de estudá-la com o curador deste período da National Gallery  em Washington DC.  Justifica-se portanto meu interesse neste livro que descobri numa lista de obras dedicadas às artes plásticas. A lição de anatomia, de Nina Siegal, com tradução de Waldéa Barcellos, é centrada na obra do mesmo nome, que representa o Dr. Nicolas Tulp, demonstrando a técnica de dissecar um cadáver.  Datada de 1632, foi obra que marcou Rembrandt, não só por ser seu primeiro retrato para um grupo de pessoas, foi testemunha da evolução do estilo do pintor, assim como sua elevação dentro da própria guilda de São Lucas, a guilda dos pintores.

A lição de anatomia do Dr. Nicolas Tulp, 1632
Rembrandt van Rijn (Holanda, 1606-1669)
óleo sobre tela, 170 x 217 cm
Mauritshius, Haia

Intrigada pela gravura deste quadro que via no escritório do pai, Nina Siegal decidiu pesquisar o quadro e a era em que foi pintado. Em seis anos produziu este romance, com trama de suspense e deu ao seu leitor a oportunidade de saborear o que poderia ter sido a vida nas cidades holandesas do século XVII. A grande habilidade da escritora está em tratar de personagens históricos que detêm preocupações corriqueiras, diárias, emoções variadas da vaidade ao preciosismo, preconceitos religiosos, cheiros desagradáveis, preocupações comerciais, enfim detalhes do dia a dia comum na primeira sociedade totalmente capitalista, estabelecida com maior poder econômico do mundo no século XVII.

A história é contada a seis vozes.  Cinco personagens da época e uma curadora de arte holandesa que examina a tela.  Cada capítulo pertence a um personagem, eles se intercalam eventualmente chegamos ao ápice da ação.  Talvez tenha sido esse intercalar dos capítulos que não tenha me deixado presa ao texto, mesmo em se tratando de um pequeno mistério.  Pula-se das preocupações da esposa de uma ladrão que será punido com a  morte, às preocupações com modelos de Rembrandt, de um despachante de curiosidades para colecionadores, à vaidade do Dr. Tulp, ora um ora outro.  Para mim, foi como algumas composições de jazz: bonitas mas também dispersivas.  No final, o clímax da história, acaba deixando a desejar, depois do trabalho que tive de manter todas as pontas em ordem.

Nina Siegal

Pensei muito, calculei bastante os prós e contras, não consigo dar mais do que três estrelas de cinco. Foi uma leitura que me deu trabalho para manter a atenção apesar de abordar um assunto de grande curiosidade para mim. Recomendo a leitura com restrições.

 

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Na boca do povo: escolha de provérbio popular

4 07 2022
Ilustração de Maurício de Sousa.
 
A pior ovelha é a que mais berra.




Curiosidade literária

4 07 2022

Leitura, c. 1888

Georges Lemmen (Bélgica, 1865-1916)

óleo sobre placa, 30 x 38 cm

Stephen Crane escreveu a maior obra sobre a Guerra Civil americana quando lançou O emblema vermelho da coragem.  Quando lhe perguntaram como conseguira descrever tão bem, com tanta acuidade cenas de batalha,  tendo nascido cinco anos após o término da guerra, respondeu que tudo que precisou saber, aprendeu observando jogos de futebol americano.